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Ao Desconhecido







De janeiro para cá li meia dúzia de livros, assisti a uns vinte filmes, escrevi um artigo e comecei mais quatro. Tenho mais uns vinte livros para ler urgentemente, não sei quantos filmes, documentários, álbuns e gravações de shows me esperando. Não sou uma viciada em Internet, mas sou uma curiosa de nascença e uma viciada em informação por tabela. Por qual meio a informação me chega não importa, contanto que chegue.





Saí algumas vezes. Vi a exposição do Sebastião Salgado e vaguei com a Tereza pela cidade. Fomos a sorveterias, padarias, restaurantes, shoppings. E cada vez menos escrevo nos blogs... Não porque não tenha sobre o que escrever, mas porque há muitas e muitas ideais voando pela minha cabeça o tempo todo. 





Também tenho ouvido muitos prognósticos pessimistas sobre o excesso de informação e sobre os males que isso nos causa. A humanidade estaria fadada ao individualismo, à solidão, ao niilismo. Estaríamos todos em vias de nos tornarmos autômatos atropelados pelo tempo e negando espaço às relações pessoais... Mas eu, que tenho uma tendência para prognósticos pessimistas (confesso), nos últimos dias venho pensando de forma diferente. Parece-me que ceder ao pessimismo é subestimar o poder das nossas necessidades.





O ser humano é governado por suas necessidades e uma das mais fortes, embora muitas vezes ignorada, eu chamo de Sonho. É aquela faculdade de sobrepor à dura realidade a visão de um ideal que é esperança e luz no fim do túnel. O vinculo entre o real e o ideal sonhado é a utopia no horizonte, o sentido que nos move dia após dia neste mundo estranho pelo qual estamos apenas de passagem. 





Daí que posso assistir a vinte filmes em dez dias, mas vou querer rever apenas aquele que me tocou de forma especial. Quando o encontro, o tempo adquire outra dimensão, a vida floresce. O supérfluo cede espaço ao essencial que se impõe espontaneamente. E eu acabo preferindo conversar com alguém que queira falar sobre “o escolhido” do que sobre qualquer outra coisa.





E o que me toca de forma especial é o que se comunica com o que me move, seja positivamente, seja negativamente. O mesmo vale para os livros, para a música, para qualquer outra coisa. Quem é tocado pelo mesmo é aquele com quem tenho algo em comum. 





Isso significa que homens e mulheres não estão se tornando zumbis, mas permanecem em busca e, para isso, estão estabelecendo novos modos de fazer escolhas, novas formas de relacionar-se com o tempo e com as muitas opções disponíveis. Que isso muda as formas de viver em sociedade, sem dúvida. E já mudou. Mas a necessidade de encontrar-se com o ideal, seja ele um fato, um objeto ou um outro ser, não muda. 





Quem só vê alienação como resultado do atual contexto, talvez deva se lembrar que alienados existiram em todas as épocas. Assim como sempre existiram os que enxergam além. Como em todas as épocas, a humanidade caminha sem saber para onde e se espanta com seus próprios passos. Mas, em nenhuma época se viu deserdada da capacidade de perseverar na existência. Corpo e razão continuam conspirando para continuar a marcha rumo ao ideal e ao futuro.