Minha teoria sobre best sellers e blockbusters: eles dizem o que as pessoas precisam ouvir e por isso fazem tanto sucesso. Um exemplo é o nosso Paulo Coelho, que caiu no agrado do público numa fase new age em que cristais, duendes, fadas e bruxinhas causavam sensação no comércio e colocavam personagens de sonhos encantados como parte do dia-a-dia.
Nunca achei Paulo Coelho um grande escritor, mas suas histórias são boas à medida que motivam a superar dificuldades diárias e lutar por nossa “lenda pessoal”. Por consequência, o autor é reconhecido e bem recompensado.
Num primeiro momento, para alguns, render-se às leis de mercado é algo condenável, considerando que um escritor seja um artista e que um artista, supostamente, coloca a liberdade e sinceridade de sua expressão mais íntima em primeiro lugar. Assim, a arte não poderia ser utilitária. Porém, as fronteiras nunca são claras e distintas. Ainda mais hoje em dia em que algozes e vítimas somos, ao mesmo tempo, todos nós.
Seriam os textos comerciais de um Nicholas Spark, por exemplo, tão banais, alienantes e ou condenáveis por serem comerciais quanto se poderia pensar num primeiro momento? Ninguém questiona o bom-mocismo dos jedis e suas mensagens edificantes.
Há um dito que circula pela Internet há um bom tempo e que, confesso, não tenho ideia de qual seja a origem. Diz, em linhas gerais: “O ser humano tem o bem e o mal dentro de si. E qual deles vence? Aquele que é incentivado.” E isso me faz pensar que nosso lado ruim tem sido muito incentivado e, provavelmente, por isso mesmo, está a vencer. Talvez por isso a violência, em suas várias formas, chegou a níveis assustadores, assim como a falta de empatia, a falta de respeito, de cortesia, de gentileza, de mínimas considerações para com o outro. Talvez por isso tantos gritem, tão poucos ouçam e o desespero só cresça.
Daí que talvez os escritores que vendem sonhos, vendem exatamente o que precisamos. Sonhos que fortalecem o que temos de melhor! O sonho de encontrar nosso par ideal; o sonho de conviver com pessoas solidárias, companheiras e agradáveis; o sonho de viver em um mundo de harmonia entre contrários; o sonho de que a mesmice cotidiana seja a razão da nossa felicidade; o sonho de cruzar o universo, conhecer o mal, mas superá-lo com o bem, com a liberdade, com uma vida autêntica, com o amor.
Na sociedade da racionalidade utilitária, a imaginação, a fantasia, o sonho têm sido entendidos como de menor importância, como coisa de gente alienada. Mas, se os seres humanos têm tais capacidades é porque elas lhes são vitais e úteis. Quem não tem um sonho é um andarilho sem direção, uma alma semi-morta. Sonhar é preciso, contemplar o belo é preciso, a menos que nos contentemos a sucumbir ao pior de nós. Só não podemos confundir a imaginação, a fantasia e sonhos, elementos conscientes provocados pela arte, com aqueles que nos fogem do controle, bom lembrar.
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