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Calando e Não Consentindo








Tenho poucos amigos, mas se dissesse tudo o que penso teria uma legião de inimigos... 


Muitas vezes me calo para não ferir pessoas por quem tenho o mais sincero afeto e, também, porque não me acho a dona da verdade. Não acho que tenho o direito de julgar alguém. Mas, tenho opiniões. Não há como não tê-las. 





Verdade que nem sempre eu consigo me calar, e aí é desastre na certa. Ou fico com o não dito entalado na garganta e alimentando a minha depressão, ou acabo desagradando alguém. Ninguém gosta de ver o lado mais indesejado de sua personalidade ou situação exposta num espelho para quem quiser ver, ou sentir o dedo de outro na própria ferida. Dói. E como dói! Para remediar, posso dizer: estar não é ser, então conheça-se e aperfeiçoe-se, se te interessar. 





Por exemplo, na última semana flutuaram ecos no espaço sobre maternidade e a falsidade do tal "instinto materno", que não seria mais do que a reação das mulheres às ideias socialmente construídas sobre ter ou não filhos, constituir ou não uma família. Assunto complexo, vasto. Pessoalmente, acredito em instintos como elementos orgânicos, biológicos... De qualquer forma, algumas complexidades se traduzem, na prática, em escolhas ou em assumir com maturidade as consequências da falta de escolhas.





Eu acho inadimissível que uma mulher que tenha um filho(a) pequeno(a) não pare sua vida para dedicar-se a ele(a) e ao que ele(a) precisa, incluindo um lar, a convivência com um pai (se possível), uma família unida. O discurso de emancipação feminina aqui que faça uma pausa. A emancipação não pode prescindir da maturidade e da responsabilidade pelo novo ser que foi colocado no mundo. Talvez tudo ficasse mais fácil para as jovens mães se elas se dessem conta de que uma fase da vida não é uma vida inteira. A criança vai crescer e ela vai retomar condições de viver sua vida profissional e relativa independência. 





Outro exemplo, a burocracia de esquerda. Tenho vários conhecidos que são militantes de esquerda. Aliás, normalmente meus conhecidos são de esquerda, com raríssimas exceções. Mas não posso ver com bons olhos que a miséria social seja  mote para que alguém ganhe seu pão de cada dia.  Certa vez, alguém sugeriu que se a nossa sociedade se transformasse na ideal, sem pobreza, ela(e) não teria mais trabalho... E eu tive que explicar que sempre haverá conflitos na sociedade e que sempre haverá pelo que lutar, então pelamordedeus "faça bem seu trabalho, o melhor que você puder". E vi uma cara de espanto e incredulidade do tipo "será, mesmo?". 





Outro exemplo, aquela pessoa que adora cultivar uma bela imagem de si mesma. A perfeitinha, certinha, lindinha, fina, culta, sofisticada, de espírito elevado, bem viajada, bem-sucedida, mas que na verdade é apenas narcisista, egoísta e cega para os próprios defeitos... Pessoas assim podem destruir aqueles que convivem intimamente com elas. Elas não enxergam o outro, apenas o reflexo de si. Se acham muito empáticas, mas apenas projetam nos outros sua própria visão distorcida de realidade. Às conveniências dela, tudo! E como o outro pode não corresponder ao que ela acredita que ele está sentindo/vivendo/querendo?! Em minha defesa digo: sou kamikaze, encurralo as pessoas até que elas me digam o que eu não quero ouvir apenas para ter a certeza de que a minha imaginação corresponde, ou não, à realidade.O que aconteceu/acontece, afinal? A verdade de uma história está na soma das várias perspectivas atribuidas a ela.



Tenho poucos amigos. Sou esquiva, introvertida, me mostro pouco. Observo o que as pessoas colocam à vista, geralmente não peço e não quero nada de ninguém, tenho tendência ao isolamento e não tenho a menor vocação para a falsidade. Sou, ou estou...  Bem, não tenho vocação para atriz, é certo! O que ninguém poderá dizer de mim, em verdade, é que menti, que disfarcei, que manipulei. Já quis muito ser diferente, viver no vai da onda como a maioria, mas hoje acredito que o melhor que alguém pode fazer por si mesmo, e por tudo e todos, é assumir-se e aperfeiçoar-se. Afinal, bem ou mal, somos seres únicos no espaço e em constante transformação.