“As redes sociais estão destruindo a Internet”... A frase não é minha e nem me lembro do nome da pessoa a quem ela foi atribuída pela primeira vez. Certamente foi dita por um desses hackers famosos que enriqueceram participando da construção de uma certa rede social...
Frase muito radical? Acho que não... Quem disse isto pensava no caráter libertário com que a Internet originalmente acenava, agora suplantado por interesses comerciais e políticos. Tal caráter, na verdade, ela nunca teve, uma vez que já nasceu como instrumento de guerra, de tráfego de informações confidenciais, de espionagem e de controle (vide história da ARPANET). Liberdade na Internet é exceção e não regra. A mim importam mais os danos subjetivos e, por extensão, culturais que a Internet, dominada por redes sociais, está causando.
Me parece que há três ferramentas que já justificariam a existência da Internet enquanto veículo de comunicação e de troca de informações úteis ao desenvolvimento humano: os sites, os blogs e os e-mails. As outras são supérfluas, desnecessárias e pior, viciantes.
Os sites servem de suporte para todo tipo de informação; os blogs são práticos e de fácil uso, não pedem conhecimentos em programação e neles qualquer um pode disponibilizar textos informativos e ou reflexivos; por e-mail é possível estabelecer contatos pessoais e enviar arquivos com as informações mais diversas. Acesso via celular? Depois que inventaram os celulares as pessoas passaram a se comportar como se tudo fosse urgente urgentíssimo e nada pudesse esperar. Mas as pausas são necessárias, o estar só consigo mesmo é necessário. O tempo é um fator de processamento cerebral.
Estamos mergulhados no excesso, sendo engolidos pelo tempo, arrastados numa espiral desesperada de informações desordenadas que pipocam por todos os lados e nem podem ser devidamente refletidas e assimiladas em meio ao fluxo incessante... E daí começam a aparecer os efeitos, que provavelmente as novas gerações nem percebem já que elas não têm parâmetro de comparação: as “bolhas de consciência”. Elas surgem e estouram como bolhas de sabão... Fluxos de pensamento superficial que surgem do nada e vão para lugar nenhum, pois desaparecem sem ter sido aprofundados. Não é mais o homem tipográfico, como diria Gutenberg, que pensa sequencialmente por processos de identificação e combinação de símbolos, e sim o homem cibernético, que capta estímulos e permanece amortecido pelo choque. Há quem diga que surgirá um novo tipo de pensamento, não mais refletido e sim intuitivo. A mim tal possibilidade soa como temerária.