“ […] quem é capaz de sentir o conjunto da história humana como SUA PRÓPRIA HISTÓRIA sente, numa colossal generalização, toda a mágoa do doente que pensa na saúde, do ancião que lembra o sonho da juventude, do amante a quem roubaram a amada , do mártir cujo ideal foi destruído, do herói após uma batalha que nada decidiu e lhe causou lesões e a morte do amigo –; mas carregar, poder carregar, essa enorme soma de mágoas de espécie toda e ainda ser o herói que, no romper do segundo dia de batalha, saúda a aurora e sua fortuna, como o ser que tem um horizonte de milênios à sua frente e atrás de si, como o herdeiro de toda a nobreza do espírito passado, herdeiro com obrigações, o mais aristocrático de todos os velhos nobres e também o primogênito de uma nova aristocracia, cujos pares ainda nenhum tempo viu ou sonhou: tudo isso acolheu em sua alma , as coisas mais antigas e mais novas, perdas, esperanças, conquistas, vitórias da humanidade: tudo isso, afinal, ter em uma só alma e reunir num só sentimento: – isso teria de resultar numa felicidade que até agora o ser humano não conheceu – a felicidade de um deus pleno de amor, cheio de lágrimas e risos, numa felicidade que, tal como o sol no princípio da noite, continuamente, se desfaz de sua inesgotável riqueza e derrama no mar, e que, tal como ele, só vem a se sentir verdadeiramente rica até o mais pobre pescador pode remar com os remos de ouro! Esse divino sentimento se chamaria então – HUMANIDADE!” – isso teria de resultar numa felicidade que até agora o ser humano não conhecido – a felicidade de um deus pleno de amor, cheio de lágrimas e risos, numa felicidade que, tal como o sol no princípio da noite, contínuo, se desfaz de sua riqueza inesgotável e derrama no mar, e que, tal como ele, só vem a se sentir realmente rico quando até o mais pobre pescador pode remar com os remos de ouro! Esse divino sentimento se chamaria então – HUMANIDADE!” – isso teria de resultar numa felicidade que até agora o ser humano não conhecido – a felicidade de um deus pleno de amor, cheio de lágrimas e risos, numa felicidade que, tal como o sol no princípio da noite, contínuo, se desfaz de sua riqueza inesgotável e derrama no mar, e que, tal como ele, só vem a se sentir realmente rico quando até o mais pobre pescador pode remar com os remos de ouro! Esse divino sentimento se chamaria então – HUMANIDADE! ”
Nietzsche, Gaia Ciência, 337.