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Como vai você?


Perguntinha corriqueira, feita por aqueles que nos querem bem e, por mera formalidade, por aqueles que não se importam – Como vai você? É sempre uma pergunta útil… Da última vez que uma amiga me questionou a respeito, me fez parar e pensar: como eu estou?

Nos últimos anos aprendi a me proteger do sofrimento. Me coloco em um espaço mental em que não sinto, não me importo, não sofro e fico lá, protegida. Espaço acessado por uma porta chama Autocontrole e conquistado a duras penas, do qual muito me orgulho!

Nunca fui de me abandonar. Pelo menos não por muito tempo. Nos momento mais difíceis me peguei no colo, contive meus ímpetos e corrigi meu próprio rumo. E nos momentos de normalidade sempre dirijo minha atenção para aquilo ou para aqueles(as) que são caminho para novas descobertas, novos aprendizados, oportunidade de nova elevação espiritual cada vez a um nível mais alto. Muitas vezes me enganei com belas aparências – e quem não? –, mas até os enganos foram e são possibilidades de aprendizado e elevação.

Daí que hoje não me percebo sofrendo. Pelo contrário, uma parte de mim até está feliz. E a parte que não está tão bem assim também não está mergulhada no sofrimento profundo, e sim num incômodo impotente… Eu não imaginava que um dia viveria em um país como o Brasil de hoje… Não estava preparada para isso... O país que em 2013 expressou nas ruas sua exigência por “mais direitos” se tornou sucata atirada ao vento por almas cegas...

Por mais que eu ouvisse falar em lutas de classes nunca acreditei realmente nisso, pois acreditava (e acredito) que pessoas boas e más existem em todos os lugares e conflitos podem surgir a qualquer momento, entre pessoas de um mesmo nível social ou não… Até porque os conflitos têm sua própria dinâmica… E ninguém é totalmente bom, ou totalmente mal (seja lá o que for "bom" e "mal")... Mas hoje é evidente que existe uma luta de classes e que muitos não se dão conta de qual o seu lugar. Falta de consciência de si... No Brasil de hoje tem classe média se achando O Rico – com direitos superiores, deveres minimizados, ética escassa ou inexistente – , enquanto não se dá conta da própria insignificância diante dos verdadeiros “donos do mundo” e suas artimanhas sutis.

Paulo Freire escreveu que os oprimidos devem libertar-se para libertar seus opressores... Mas, o que fazer hoje, diante desse quadro geral tão urgente? Talvez não haja mais tempo para convencer o oprimido a querer libertar-se nem por ele mesmo e por aqueles que ele ama, quanto mais por aqueles que lhes são alheios (aparentemente, pois tudo permanece interligado)...

A Internet, que por mais de duas décadas foi minha companheira dos momentos de cafezinho e chá, hoje só está servindo ódio, rancor, desespero, delírio e deficiência cognitiva crônica… Há um ou outro espaço privilegiado, claro, poucos e raros e difíceis de visualizar em meio ao caos… Eu, que gostaria de viver de filosofia e arte, me sinto realmente incomodada e impotente… Ninguém me avisou de que quanto mais se estuda e aprende e quanto mais se vive, mais se tende a ficar falando sozinho como o habitante de esferas desertas… Mas, bem que eu devia ter entendido antes… Zaratustra que o diga!