O segundo ano de uma tragédia anunciada... Nunca o Brasil perdeu tantas vidas em consequência de uma crise de saúde e política, e ética... Tenho me sentido impotente para escrever sobre o Brasil de hoje, pois sinto falta de palavras que expressem a intensidade da minha indignação, principalmente, com um bando de políticos sentados encima de 150 pedidos de impeachment enquanto brasileiros passam fome e o país agoniza... No ápice dos fatos e emoções nenhuma palavra dá conta e, francamente, me sinto exausta.
2021 também foi o ano em que descobri os desconfortos da diabetes e de uma hérnia de disco, que se somam a uma enxaqueca nervosa crônica. E vendo tanta gente de cabelos brancos comecei a entender tinta de cabelo como a coisa mais banal do planeta. Então, me sinto como uma velhinha dolorida e sem disfarces. E tem algo de libertador nisso. Que bom não mais me sentir na obrigação de interpretar papéis que não me cabem!
Quando jovem eu achava, mesmo, que o mundo poderia ser transformado no ideal dos sonhos. Hoje, quanto mais estudo História e observo os dias atuais, mais acredito que é sempre o mesmo se renovando e renovando em um torvelinho de eterno retorno do mesmo disfarçado por camadas sobre camadas de véus. Tudo o que é possível fazer é procurar manter-se discretamente boiando na superfície de águas turbulentas.
Nesse tempo digital a sociedade está, mais do que nunca, atolada nas práticas da racionalidade instrumental, direcionadas à manutenção de uma realidade marcada pelo banal superlativo... Erguem-se vozes contra a dominação imposta pelo Vale do Silício, ao mesmo tempo em que o Deus Sistema se equipara ao Deus Dinheiro. Não por acaso Julian Assange é o mártir da era digital... Enquanto a sociedade afunda na desorientação, bancos, financistas e prestadoras de serviços em geral nos enfiam goela abaixo o seu novo normal: sem celulares e controle de cada suspiro nosso não é possível subsistir. É o império dos Apps e da ganância sem freios!
Enquanto isso, já não contentes com o domínio exercido na Terra, os bilionários se alçam aos céus, em busca de novas conquistas... Como grande admiradora que sou da obra do Carl Sagan também eu me empolgo com a exploração espacial, por todo o conhecimento que ela pode gerar. Mas, claro, o atual contexto não é bem o desejável e nem as motivações as mais adequadas.
2021 também foi o ano da negação da ciência e da influência política dos pseudocientistas e pseudofilósofos, o auge do travestimento da autoajuda em ciência séria. O ápice da manipulação marketeira do pensamento agora tem um rosto emblemático: Steve Bannon... Um belo homem! Charmoso, estiloso, "bem" relacionado, rico! Na superfície bela viola, como sempre... Humor negro? Uma grande gargalhada atirada sobre a Humanidade, isso sim... Afinal, "Why so serious"?
2021 também é o ano em que aprendi a gostar dessas pessoas... Esses influenciadores de opinião de caráter duvidoso são um grande espetáculo... Diferencio entre as pessoas e seus atos... Gosto das pessoas, não do que elas fazem... Uma pessoa não é o que ela faz, pelo menos não apenas. Seu atos são seu momento. Seu todo é sempre espetacular! Grande testemunho do talento incomensurável da Natureza! Se existe um Deus, ele é o maior artista de todos, o criador de personagens memoráveis, cada persona é todo um universos de forças dinâmicas! Grandioso...
Então, não, não me sinto amarga. Apenas muito lúcida. 2021 também é o ano da publicação do meu primeiro livro, O Super-Homem Para o Além do Transumano: Nietzsche e o Transumanismo. Disponível na Amazon em versão digital desde outubro e na Amazon EUA desde início de dezembro em versão impressa. Logo mais estará disponível também na Amazon Brasil e outras livrarias online em ambas as versões. Como o próprio nome já denuncia, ele mostra como a filosofia transumanista pode ser mais um engodo, e a confronta com as propostas éticas de Nietzsche. No fim das contas, é um livro até otimista, afirmativo da vida, esperançoso. Pretendo divulgá-lo ao longo do próximo ano, pois até agora eu nada fiz nesse sentido.
2021 também é o ano em que eu embarquei na área de editoração como minha última navegação... Acho mesmo que foi para isso que estudei e me levantei de tantas fases ruins, para trabalhar com livros, esse objeto de consumo em crise, cuja manutenção da existência é tão duvidosa... Acredito na sobrevivência dos livros, pois há muito amor envolvido. O amor profundo é capaz de criar formas muito inusitadas, improváveis, de sobrevivência.
No momento, preparo a publicação do livro de um amigo, ex-colega de faculdade, sobre Marcuse. Também devo trabalhar na divulgação dele ao longo do próximo ano. Meus próximos projetos incluem o desenvolvimento de um novo livro sobre transumanismo e Nietzsche (uma nova abordagem), livros de filosofia para leigos, livros e mais livros e divulgação de livros filosóficos, históricos, científicos, biografias, talvez ficção também... E vamos ver até onde podemos chegar!
E, não posso deixar de mencionar, em 11 de dezembro partiu Anne Rice... Minha escritora preferida de fantasia. Sou uma grande admiradora de suas Crônicas Vampirescas, do amor atemporal e ilimitado de Lestat e Louis... Que grande inspiração nossa rainha do terror gótico contemporâneo nos deixou! Nem sei dizer o quanto de suas histórias moldaram a minha própria personalidade...Que ela permaneça em paz na eternidade!