Na noite passada sonhei com a Maya… No sonho, eu estava deitada na minha cama e sentia que ela subia e se enfiava por baixo das cobertas, tentando se acomodar junto ao meu corpo. Senti o calor do corpinho, a textura dos pelos, o movimento para se moldar ao meu corpo, como ela fez tantas e tantas vezes… Em vez de acolhê-la e abraçá-la, eu me assustei, me senti aterrorizada, me afastava apavorada … E acordei assustada, chorando … Afinal, porque me senti assim com relação ao ser que eu mais amo nesse universo?
A Maya me deixou no dia 24 de junho… Um dia todo errado e cheio de horrores e, no fim dele, se impuseram uma tristeza imensa e um vazio desesperador, uma falta de sentidos que se transformou na dor física que não me deixa… Lutamos e perdemos, e cedo demais... Tenho me negado a falar sobre isso, pois não é algo que se esgote em poucas palavras ou em algumas linhas. E estou muito, muito longe de acomodar os acontecimentos na minha mente de modo tranquilo.
O sonho foi um aviso do meu inconsciente cansado… Não era medo da Maya e sim um alerta contra o abismo que se abre sobre os pés dos desequilibrados… Era meu inconsciente me alertando de que não é possível dialogar com os mortos no mundo dos vivos e manter a sanidade, pelo menos não do jeito que eu venho fazendo… Continuo arrumando a caminha dela todos os dias, continuo falando com ela o tempo todo, continuo alimentando a impressão de que ela vai entrar pela porta a qualquer momento… E como ela não volta, tenho crises de choro dia sim e outro também.
Até há pouco, eu pensava que as religiões surgiram do medo que os primeiros humanos sentiram frente às forças incontroláveis da natureza. Hoje acredito que as religiões também nasceram do amor… Como encarar o desaparecimento súbito do ser mais amado? De repente me vejo querendo acredita em vida após a morte, em preservação de identidades em um mundo de espíritos, em reencontros no além mundo físico… Quero um altar em casa para guardar as cinzas dela, e fotos dela nas paredes, e continuar falando com ela… Eu QUERO acreditar que ela continua ao meu lado o tempo todo, porque me é insuportável pensar que a minha companheira tão terna, delicada, medrosa e ao mesmo tempo feroz, que foi alvo do meu cuidado e afeto por mais de uma década, se transformou num montinho de cinzas guardado em uma caixinha e nada mais… Não é suportável...
Ah, eu já sufoquei e matei amores para conseguir sobreviver a eles. Eu os asfixiei para conseguir emergir e voltar a respirar! Mas, eram amores por quem não me fazia bem. Não é o caso agora… Quero continuar amando, porque ela foi o meu amor que deu certo e por ela ser digna do meu melhor… O que fazer? Eu prometi a ela que vou aprender a transformar a dor e a saudades em força... É tudo o que posso fazer em meio à incompreensão e ao vazio… Mas, não sei como fazer e preciso aprender… Por mim, por ela, por nós…