Não sou uma pessoa impressionável. Muito pelo contrário! Aqueles a quem eu reverenciaria são bem poucos, talvez em número menor do que dos dedos de uma mão. Neil Gaiman é um deles, certamente! É meu escritor vivo de ficção preferido! Um sujeito fantástico, cujas obras vêm de encontro ao modo que mais me agrada encarar o mundo: na fronteira entre o real e a fantasia… E não foi que acessei meu Instagram e vi um pedido para seguir meu perfil de ningém mais, ninguém menos...
O nome do perfil era o dele, e com a estrelinha de autenticação… Levei um susto, arregalei os olhos e disse para mim mesma “Meu Deeeeus, e agora? O que eu faço? Eu aceito, ou não???”... Me fiz de morta e fui almoçar para ganhar tempo antes de decidir o que fazer… Não me pareceu impossível que fosse o Gaiman, pois passei um tempo refutando haters no perfil dele dias atrás. Talvez ele tivesse lido alguma das minhas postagens e estivesse dando um aceno em retribuição. Afinal, por trás do artista famoso há apenas um ser humano como outro qualquer. Ou não? Retornando do almoço, fui observar os detalhes do suposto perfil do Gaiman e entendi que era um fake… Então, me fiz de morta, mesmo!
Me senti meio envergonhada por ter considerado que pudesse ser ele de fato… Imagina, o artista que criou o personagem que marcou a minha adolescência, o Sandman, notando que eu existo neste mundo?! Não aceitei o pedido de imediato, porque pensei “o que eu tenho para mostra para alguém que é um criador tão fantástico e que eu admiro tanto?”. Nada organizado! Meus textos estão em caos, meus arquivos um tsunami, projetos parados e eu caminhando no vale das sombras!
De início, fiz um perfil no Instagram apenas para seguir perfis de editoras e me manter atualizada quanto às novas publicações. Quando o nome Moon Bin surgiu na minha vida passei a seguir alguns idols, alguns artistas e aceitei sugestões dos algoritmos… Apenas! Na verdade, tenho preguiça de cuidar de um Instagram… É uma ferramenta útil para divulgar conteúdos, mas o fato é que não tenho nada organizado para mostrar e há tempos resisto em sair da minha caverna. Na verdade, gostaria é de não precisar sair dela nunca mais.
Agora tenho um psicólogo. Ficar sem a Maya realmente me nocauteou. Pensar que ela não existe mais é algo que eu nego, refuto, resisto... Estou realmente precisando de mais do que escrever em blogs, até porque estou com dificuldades para escrever e seguir a vida. Minhas poucas amigas não conseguem me tirar de casa, e olhe que elas tentam! Momentos de luto e ou de rupturas são ocasiões em que se fica sem chão. Só quero ficar com minhas lembranças e escondida do universo.
Mas, não era sobre esses dilemas que eu queria falar… Em algum lugar de Ecce Homo, Nietzsche diz que passou a vida lendo obras de outros e desejava abandonar tal hábito para se dedicar apenas a escrever a própria filosofia… Não quero fazer isso nunca! Não sei e não quero ficar sem ler. Preciso de um tempo do dia para ler, todos os dias… Minha curiosidade continua intacta e é infindável! Mas, preciso, mais ainda, desenvolver meus próprios textos, levar adiante meus própros projetos. Para além de todas as minhas dores e cicatrizes, preciso fazer algo essencialmente meu e também por causa delas… Estudei muito, me desenvolvi muito intelectualmente e tenho muito acumulado para dizer. Quanto a dizer, minha maior dificuldade, no momento, é lidar com um certo excesso de escrúpulos acadêmicos.
Parece brincadeira, mas passei mais de 20 anos da minha vida escrevendo textos acadêmicos. Em 2008, quando comecei a graduação em Comunicação, eu já havia trabalhado com isso por uma década! Sempre para outros. E daí que desenvolvi vícios de linguagem e bloqueios... Aprendi que se deve tomar o máximo de cuidado para nunca distorcer o pensamento de outros. Dizer que um escritor disse o que ele não disse é um erro terrível, no qual tenho horror em cair! Por escrúpulo sou cuidadosa ao extremo. Então, leio e releito e faço citações e com isso o tempo passa e a produção não sai.
Eu não produzo de acordo com o tempo acelerado de uma sociedade de consumo e descarte acelerado. Nem foi meu intuito, nunca, produzir descartáveis… O tempo de um filósofo(a)/escritor(a) que se preza não é o tempo deste mundo… No fim, ou acabo escrevendo desleixadamente, por mera catarse descompromissada (como agora), ou me sinto engessada em um modo acadêmico padrão e num tempo inadequado. Quero escrever textos diferentes e interessantes quanto à forma… A forma estética, além do conteúdo, também é importante para mim! Preciso ultrapassar os modos formais e impessoais, a ausência de espontaneidade ou de inventividade formal… É tudo sobre invenção, sobre não me acomodar a fórmulas prontas e mais do mesmo!
Neil Gaiman costuma dizer que se você quer ser escritor, escreva, escreva e escreva, pois não faz mal que de início não saia nada de bom. Com o tempo se encontra o próprio rumo... Acredito nele! E também por isso procurei pela ajuda de um psicólogo: tenho medo de me perder nas fronteiras da reinvenção de mim mesma... Entre o que eu desejo e o real há muitos fantasmas e sombras...