
Incrível como as más intenções podem estar em todos os lugares, até mesmo camufladas em um aparentemente inocente programa de televisão infantil!
Depois de interpretar protagonistas em filmes sérios e barra-pesada como Uma Outra História Americana e Clube da Luta, Edward Norton resolveu novamente encarar um tema sério, mas desta vez apresentado em linguagem diferente: a comédia. Em Morra Smoochy, Morra ele é Sheldon Mopes, um ator idealista e politicamente correto que cria e interpreta o personagem Smoochy, um rinoceronte cor-de-rosa amigo da criançada.
Os problemas de Sheldon começam porque ele faz questão de ser amigo verdadeiro, sincero nas intenções, honesto e responsável nas ações. Sua postura não é muito compatível com as pretensões capitalistas dos executivos do canal de televisão que o contrata, o Kidnet (nome muito sugestivo, esse), e nem com as ambição de seus patrocinadores.
Ironicamente, Sheldon é contratado para substituir o corrupto Rainbow Rudolph (Robin Williams) justamente por ser ético e acima de qualquer suspeita. Mas, para evitar problemas, ele deveria parecer... sem ser. Porém, Sheldon é leal à suas crianças, quer transmitir valores para uma vida saudável e ponto final. Assim, conquista sucesso ao mesmo tempo que atrai a ira de seus inimigos, que passam a querer sua cabeça em um prato.
Sem fazer muito dramalhão, sempre tentado ser conciliador, esbanjando simpatia, bons modos e sorrisos, Sheldon parte logo para busca de alternativas. Contrata um novo empresário (Danny DeVito) e passa a desenvolver seus produtos e merchandise politicamente corretos. Assim, mostra que leva muito a sério seu próprio lema “você não pode mudar o mundo, mas pode fazer a diferença”. Sim, sim, é possível lucrar sem deixar a ética de lado, vendendo o que realmente é saudável e útil. É questão de opção.
O filme poderia ser piegas, um tremendo besteirol superficial, mas se salva e com mérito. É uma deliciosa diversão que transmite uma mensagem muito séria, uma comédia que pode ser vista por adultos e crianças fácil, fácil. É uma combinação de sátira com filme noir que lembra antigos musicais de Hollywood e que, por algum motivo, também me lembra A Fantástica Fábrica de Chocolates e Willy Wonka, embora Sheldon Mopes nem de longe se pareça com Willy. Ele é doce, alegre e encantador. Com esse filme se vê um Edward Norton cheio de sorrisos e saltitante, exercitando seu lado cômico muito à vontade. Já não se pode dizer o mesmo de Robin Williams, que é bem mais frequente em comédias, mas cuja interpretação me parece um pouco forçada e desnecessariamente irritante, mesmo para um vilão.
O triste é notar que mesmo em um ambiente (o infantil) onde ética e correção nem deveriam entrar em questão, pode se estabelecer a ganância e falta de escrúpulos. Encontrar uma maneira de “fazer a diferença” pode não ser fácil, mas é a forma mais digna de existência humana.
Título Original: Death to Smoochy
Gênero: Comédia
Lançamento: 2002, EUA
Direção: Danny DeVito
Roteiro: Adam Resnick
Música: David Newman
Fotografia: Anastas N. Michos
Com Robin Williams (Rainbow Rudolph); Edward Norton (Smoochy / Sheldon Mopes); Danny DeVito (Burke); Jon Stewart (Stokes); Catherine Keener (Nora); Harvey Fierstein (Merv Green); Pam Ferris (Tommy Cotter); Martin Klebba (Garoto Krinkle / Rhinnette); Greg Korin (Fã de Smoochy); Nick Taylor (Henry); Danny Woodburn (Angelo Pike).