Fim de ano chegando, época de pensar em balanços e planejar o futuro. Não creio que eu possa fazer um balanço de 2012 em apenas um texto. Para mim, se 2011 foi meu Sturm und Drang, 2012 foi o início da Revolução. Exaurida, deixei a vida me levar e ela me levou, mesmo.
Pensei em passar um 2012 tranquilo, estudando, escrevendo, lendo romances e poesias, encontrando amigos vez ou outra. Mas, não foi bem assim. Inesperadamente, passei a viajar muito. Viajei mais neste ano do que em todos os meus anos de vida. Conheci lugares, pessoas, novas ideias e, principalmente, estradas e aeroportos. E não tive muitas oportunidades de ficar sozinha ou de pensar na vida.
E ainda bem que foi assim! Fui resgatada pela falta de tempo para pensar na minha vida. Aos poucos certas lembranças se tornaram esmaecidas, desbotadas, curadas. Hoje são como um filme que assisti há uns 30 anos. Ou quase em certos momentos. Mas, sabe quando a gente fica em dúvida se algo aconteceu, mesmo? E, na dúvida, acaba deixando prá lá. Daí, sinto uma pontinha de culpa ardendo no peito. Uma vozinha dizendo “você não cuidou do que de mais precioso já teve”. E eu a ignoro e dou mais alguns passos adiante. Dispenso as mesmas chantagens de sempre. O mesmo sentimentalismo de sempre, as lágrimas do mesmo estoque, a mesma auto-tortura, as mesmas soluções prontas. O tal id é um chato sem galochas, sempre se repetindo e se repetindo. Eu o decifrei e isso doeu demais!
Doeu encarar as fraquezas da minha força e a força das minhas fraquezas. Doeu olhar para minhas necessidades nuas e suas causas, minhas carências camufladas, meus sonhos frustrados, minhas ilusões desmascaradas e mortas. Doeu imensamente olhar para mim e reconhecer essa criatura ora doce e meiga, ora lutando furiosamente para conter em si seu monstro pessoal. “Você não imagina como é grande o meu amor” diz Elizabeth Gilbert em seu Comer, Rezar e Amar. Eu teria escrito “você não imagina como é grande a minha necessidade de amor”. A minha e a de tudo que vive na Terra, seres instáveis permanentemente em busca de uma plenitude que nos permita descansar.
Mas tenho deixado de falar tanto de mim, de me investigar tanto. Uma vez decifrada, me pareço desinteressante para mim. Tenho olhado mais para o mundo, observado mais as pessoas. Tenho procurado escrever mais com olhar universal, procurando sentir mais como a vida acontece ao meu redor. Encontrei pessoas do Amazonas e do Rio Grande do Sul (até um filósofo do Amapá) e não senti diferenças essenciais entre elas. Somos todos seres implorando por esperança em um mundo doente, embora isso fique mais evidente nas grandes cidades. Na solidão das megalópoles. Encontrei quilombolas e indígenas e eles sim, parecem abrigar em si uma fé diferente, um norte difícil de compreender, mas que é muito vivo e presente, forjado no sofrimento e na determinação.
E como eu previa, o tempo me trouxe de volta o gosto espontâneo pela Filosofia. Tenho filosofado muito comigo mesma e, agora, volto a filosofar com outros. Para isso contribuíram muito as conversas com amigos da faculdade. Amizades que estão amadurecendo e têm boas chances de durar por muitos anos. Amizades necessárias para nós, pois quem mais pode compreender os abismos da alma e do discurso de um filósofo senão seus companheiros. Pelo andar da carruagem, creio que terei companhia nas minhas elucubrações. Mesmo que os amigos não espantem totalmente a solidão permaneceremos juntos na caminhada, pois amigos, faça chuva ou sol, permanecem.
O ano acabou, as viagens cessaram? Ainda não... Depois da linda Brasília (sim, ela não é uma lenda político-televisiva, existe e é linda), na semana que vem passarei por Cajamar e depois por Curitiba a caminho de Porto Alegre. Vou a POA pela segunda vez neste ano, agora com um pouco mais de tempo para vagar pela cidade. Não posso imaginar lugar melhor para encerrar a jornada que foi 2012 do que a velha Porto Alegre. Fim de jogo! Planos para o futuro? Sim. Continuar deixando a vida me levar, pois ela é mais sábia do que eu.
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