Luzes e Sombras

“ Não é somente o interesse que leva os homens a se matarem. É também o dogmatismo. Nada há de tão perigoso quanto a certeza de ter razão. Nada causa tanta destruição quanto a obsessão de uma verdade considerada como absoluta. Todos os crimes da história são consequência de algum fanatismo. Todos os massacres oram realizados por virtude, em nome da religião verdadeira, da política idônea, do nacionalismo legítimo, da ideologia justa; numa palavra, em nome do combate contra verdade do outro... ” Fraçois Jacob, Le Jeu des possibles

Lição do dia: a Morte nem sempre é triste e ou cruel... Ela pode ser engraçada, divertida, como uma criança que faz peraltices e ri de si mesma... Choque, tristeza é dos outros, não dela...

As possibilidades da capacidade organizativa da matéria – de impor-se uma auto-ordenação em meio à desordem grotesca e aterradora, a dança macabra de partículas e substâncias – constituem meu último foco de esperança na transcendência...

O trans-humanismo tem um argumento forte em sua própria defesa: afirma que a criação científica e tecnológica é inerente à espécie humana. Em outras palavras, ciências e técnicas não são exteriores ao humano, mas nasce em sua interioridade. É a velha explicação platônica de um mundo das ideias e um demiurgo... Formas teóricas e materiais constituem-se e integram-se no mundo objetivo, transformando a própria humanidade. Criar, ter acesso e ou fazer uso do conhecimento científico e tecnológico, bem como dos objetos criados por meio deles, é modo de adquirir poder, um poder que é criado da própria espécie humana, necessariamente como condição de manutenção da existência, portanto de conservação da espécie e, mais do isto, da realização de plena potência de viver...  Há de se considerar a possibilidade de que ao manter-se na plenitude da existência, ao longo do tempo e da progressão do conhecimento e de sua produção, o ser humano está, também, em contínuo processo de evolução... Proces...

Um argumento forte contra o trans-humanismo é apresentado no Manifesto Ciborgue de Donna Haraway. Diz a autora que o ser humano, a partir do momento em que passou a utilizar objetos externos ao seu corpo biológico, para alterar as condições desse mesmo corpo, tornou-se um ciborgue. Assim, ciborgue é uma palavra nova que designa algo muito antigo, esse algo que o ser humano é. Um ciborgue é um trans-humano, ou seja, um ser humano melhorado. Ambas as palavras - ciborgue e trans-humano - são símbolos linguísticos novos que designam antigos processos de alteração da condição humana. São véus de Maya, como dia Schopenhaeur, que estão a encobrir realidades objetivas... O que estaria fazendo com que tais vèus passem desapercebidos em ambientes filosóficos?

O além-do-homem ainda permanece homem em sentido biológico, genético... E ele continua seu pacto com a terra... Mas, o que implica estar atado às leis da terra? Atado às leis da terra o homem é criador de valores. Seria possível que apenas pelo processo de destruição e criação de valores o homem deixasse de ser homem, biologicamente, geneticamente falando, para se tornar um pós-homem? Um processo evolutivo em que novos valores transformam também as configurações e estruturas biológicas e genéticas, os modos de pensar e de ser!?! Talvez os animais ofereçam respostas para esta questão. O cachorro, por exemplo, tem "memória genética". Ele defende-se de algo que nunca lhe fez mal, como uma vassoura apontada em sua direção, por exemplo, mesmo que não ameaçadoramente, e mesmo que nuca tenha sido atacado por uma vassoura... Memória genética? Mas, o que é mesmo memória genética? Poderia ser a memória genética veículos de evolução? Seria o veículo de evolução que levaria ao além-do-ho...

O poder religioso instituído, isto é, a religiosidade enquanto expressão ideológica de uma instituição estruturalmente organizada... A influência que o discuso cristão exerceu sobre o imaginário dos cientistas e, por consequência, sobre a produção científica e tecnológica... De um lado tem-se a opressão que intimidou Galileu, Giordano Bruno e Descartes, entre outros... De outro lado tem-se o trabalho silencioso de formatação de corações e mentes, o empenho por buscar e compreender Deus por meio de suas criações, a natureza, que moveu  as pesquisas de Newton e contribuiu para a formação de uma ética protestante...

Qual a causa do fracasso da humanidade quanto a formação de uma civilização de plena inclusão? Seria a razão parcial, o uso pragmático das ciências e das técnica orientados por valores inadequados? Trans-humanos, o ideal de pós-humanidade anulam tais causas? Se é verdade que a ciências e as técnicas são signos da evolução humana, então elas estariam favorecendo os mais fortes em detrimento dos mais fracos... Os fracos estariam sendo eliminados em processo de seleção natural... Nesta perspectiva, por consequência, as ciências e as técnicas seriam elementos de seleção natural...