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Forte e a Favor (argumento estético)

O trans-humanismo tem um argumento forte em sua própria defesa: afirma que a criação científica e tecnológica é inerente à espécie humana. Em outras palavras, ciências e técnicas não são exteriores ao humano, mas nasce em sua interioridade.

É a velha explicação platônica de um mundo das ideias e um demiurgo...

Formas teóricas e materiais constituem-se e integram-se no mundo objetivo, transformando a própria humanidade.

Criar, ter acesso e ou fazer uso do conhecimento científico e tecnológico, bem como dos objetos criados por meio deles, é modo de adquirir poder, um poder que é criado da própria espécie humana, necessariamente como condição de manutenção da existência, portanto de conservação da espécie e, mais do isto, da realização de plena potência de viver... 

Há de se considerar a possibilidade de que ao manter-se na plenitude da existência, ao longo do tempo e da progressão do conhecimento e de sua produção, o ser humano está, também, em contínuo processo de evolução... Processo este que tem na produção do conhecimento e de seus resultantes teóricos e materiais um modo específico de evolução, tipicamente humana... 

Neste processo, é concebível que aqueles que fazem uso das ciências e das técnicas são os "fortes", os mais aptos à sobrevivência, que vencem os "fracos"  ou menos aptos... Isto implica, ao menos em parte, que  quanto maior o desenvolvimento tecnológico e científico, maior o nível evolutivo daqueles que o acessam, sendo estes os indivíduos mais aptos...

Nietzsche tem outra concepção de "forte", uma concepção mais complexa... Para ele não basta ter acesso ao conhecimento, não basta ser um erudito ou um trabalhador do conhecimento... "Forte" em Nietzsche está vinculado a valores aristocráticos, aqueles que têm como princípio a construção de si a partir da assimilação da herança cultural da humanidade, da apropriação dessa herança de maneira autêntica, da ação orientada que tem como valor máximo a vida e a potência de viver... Não se trata de aderir a uma racionalidade pragmática, utilitarista, que corresponde a um código de valores estabelecidos e sim de agir no sentido de utilizar o conhecimento herdado e assimilado de forma autêntica para destruir valores ultrapassados e criar novos valores sempre em benefício da vida...

Há de se dedicar especial atenção ao que seria um código de valores estabelecidos... e o que seria processo destruição de valores... o que seria o processo de criação de novos valores... o que seriam os novos valores em oposição a antigos valores... Estes são pontos obscuros que a crítica à tradição logocêntrica pode esclarecer... Na filosofia de Michel Foucault, este problema corresponde à Teoria das Epistemes, conforme apresentada em "As Palavras e as Coisas"... A instância de análise é o discurso, o logos... Pretende-se discutir ruptura e continuidade epistêmica.