Qual a diferença entre seguir uma pessoa e ir aonde ela está?
Quando me vi diante desta pergunta pela primeira vez me peguei tão surpresa quanto Will... Com aquela cara meio de espanto que o Tom Sturridge fez tão bem. Uma cara do tipo “como você pode pensar isso?!”... Eu não pensei isso, nem Will...
Acho que é preciso se colocar em outra sintonia para perceber a diferença. Uma sintonia meio fora deste mundo, ou pelo menos fora do senso comum.
Em algum momento alguém inventou que não se deve fazer nada sem esperar algo em troca. Em algum momento se passou a atribuir a todas as coisas uma intencionalidade e, por algum motivo, hoje sempre se pensa que a intenção é negativa.
É verdade que o mundo não é “esplêndido”, que não há “matinês às quintas”, que “as pessoas fazem coisas horríveis”. Mas não é verdade que existe apenas uma forma de ver, de sentir, de agir e de reagir. Não é verdade que as pessoas só fazem coisas horríveis, que tudo é carta marcada que leva ao abismo. Não é verdade que só existe um jeito de ser feliz ou de ser bem-sucedido na vida.
Ninguém estranha que uma planta precise do Sol para fazer sua fotossíntese. Mas, que estranho mundo é este em que as pessoas estranham que outros contemplem a beleza simplesmente por contemplar, que cultivem um sentimento bonito simplesmente porque é bonito!
Mas, este não é bem o caso do Will. Intenções ele tem. Más, não. “A verdade não é nada. Aquilo que você acredita ser a verdade é tudo”. Meio perdido, idealista, romântico e sensível ele é. Tolo, não. De alguma forma o jovem malabarista meio palhaço e muito apaixonado viveu o suficiente para saber que a fantasia também tem seu valor, que é a partir da imaginação que os homens contróem o mundo para o bem e para o mal. E Will corre atrás para construir o mundo dele, como quer e imagina. Se tudo está em constante movimento, mesmo a contemplação é parte do movimento, sempre o início da guinada em alguma direção.
Acontece que a imaginação não tem limites e os sonhos de uns entram em conflito com os sonhos de outros. Alguns acordam, outros adormecem. Alguns se acreditam lúcidos até sonhando, enquanto outros querem continuar sonhando belos sonhos, pois sem beleza a vida é insuportável. Daí a diferença entre seguir alguém e ir aonde o outro está no modo Will de ser.
Seguir alguém é um processo. Um passo, após outro, sempre alguns passos atrás, permanentemente considerando as informações resultantes de cada etapa para saber onde o outro chega, quando, com quem, para flagrá-lo, para prendê-lo, para.... Ir até onde o outro está é um fim em si mesmo, cujo passo a passo não tem a menor importância diante do estar no mesmo espaço geográfico em que o outro está, simplesmente porque o outro está... E o outro é tudo, porque a contemplação é tudo Começo, meio e fim.
Ir aonde o outro está é condenável? É errado? Sim, pela lei dos homens. Para aqueles que seguem a teoria da intencionalidade negativa e pragmática. Mas, a lei da Estética é outra... Mais abrangente, ampla... E você será chamado de louco se correr atrás do belo, simplesmente porque ele te traduz, porque é o belo que está em você e só se manifesta na presença do outro, porque provoca sentimentos belos e você precisa de beleza. Afinal se você vive em sociedade deve se comportar como os outros: cegos para as nuances.
“Se você me perguntar, eu acho que tem uma hora na vida de todo mundo em que você fica sem rumo. É! Sem rumo, sem esperança, fé. E aí algo acontece. Algo grande demais para entender. E tudo muda para sempre. Se você me perguntar, no início você só tem bondade, tão pura e limpa que você nem percebe que está alí. Porque é assim que é quando você não sabe de nada.”
Se você não sabe de nada, ou esquecer a lei dos homens só por um instante, certamente esbarrará no sublime. Na visão que é linda simplesmente porque você vê o raro que há nela ou que se projeta de você (o que é muito provável); no ir até onde o outro está simplesmente porque o impulso é lindo... E você vai, e você fica, você permanece absorto na contemplação...
Toda piada tem um final. Mas, na vida muitas vezes a gente confunde poesia com piada, doçura com ameaça, beleza com vulgaridade. É um sobe e desce de oportunidades que a gente joga pra cima, pro lado, deixa cair ou mata de vez... Até rupturas são continuidades, de um jeito ou de outro. O modo Will de ser é apenas um jeito sensível e autêntico de viver as próprias verdades, aquelas em que se acredita, sem desmerecê-las.
[Comentários a Waiting for Forever (Esperar Para Sempre), de 2010, por James Keach, com Tom Sturridge e Rachel Bilson]