O que Freddie Mercury diria do TXT tocando We Will Rock You no Madison Square Garden? Eu acho que ele ficaria escandalizado... Se não ele, pelo menos eu, que sou chata, fico... Nada contra os meninos do Tomorrow & Togheter. São apenas garotos realizando sonhos. E eles são bons no que se propõem a fazer! O problema, a meu ver, é o que a indústria cultural está disposta a oferecer e como o público se agarra a isso.
Do que eu estou falando, afinal? Primeiro que raramente alguém toca instrumentos musicais em shows de k-pop. "Tocam"... Playback! Alguns k-idols são ótimos cantores, verdade seja dita. Mas, em shows o que vale é o visual, a beleza do idol e o espetáculo cênico que, a bem da verdade, geralmente é de alto nível coreográfico e tecnológico.
Queen, no entanto, é de uma outra época, de outro mundo. Viventes da era dos autênticos rebeldes e dos virtuoses do rock, que atingiam, em boa parte, um público formado por aspirantes a músicos e à rebeldia. Ao que se está aspirando hoje em dia?
Cha Eun Woo passou por São Paulo. Chegou na sexta 31, fez show no sábado, dia primeiro .. Não sei se hoje, fim de noite de 02/06 ainda se encontra em território nacional... Seja como for, arrastou atrás de si mulheres de todas as idades encantadas por sua beleza... Na época em que David Covardale e John Sykes eram jovens lindíssimos, transbordando hormônios, e também arrastavam garotas por onde passavam, ainda assim as moças falavam de música e os rapazes iam a seus shows.
Os meninos do Astro educaram muito bem seus fãs, e o fizeram pelo exemplo. O próprio nome do fandom, Arohas, significa "amor" na língua do povo maori, nativos da Nova Zelândia. Arohas são fãs amorosos, dedicados a seus ídolos, amigos uns dos outros, empenhados a transmitir vibrações positivas, gentis, muito bem educados e de uma lealdade inabalável. Encantadores! Realmente encantador observar o modo como todos se comunicam virtualmente, sempre expressando preocupação e cuidados com o bem-estar de outros. É uma coisa que não se encontra no Ocidente. É maravilhoso, de verdade!
O que não é maravilhoso é que amor, positividade, lealdade sejam instrumentalizados, pela indústria cultural, para garantir lucros. Os próprios k-idols acabam, muitas vezes, se tornando vítimas deste estado de coisas... E se ser crítico é sinal de comportamento inadequado que destoa em meio ao "rebanho", fica difícil até mesmo defender os idols dos abusos das empresas... Ou seja, é uma armadilha e tanto!
Recentemente foi divulgado a gravação de uma entrevista em que Eun Woo diz que se sentiu culpado quando Moon Bin faleceu, porque havia se distanciado do grupo devido ao sucesso solo que havia alcançado. E disse que se sentiu confortado pelos outros membros do grupo que, segundo ele, são "muito legais", ou seja, foram compreensivos e acolhedores com ele... Se Eun Woo se sentiu tão mal, porque continua se distanciando do grupo? Ele veio sozinho ao Brasil, e por qual motivo não veio com o Astro? O sentimento de culpa confessado por Eun Woo ecoa o que eu já havia lido de alguém que foi refutado por outros e classificado entre os haters, ou seja, que EW havia se aproveitado da própria beleza para se sobressair aos outros... Eu creio que não foi ele que se aproveitou. É óbvio o constrangimento dele em certas situações de exposição desnecessária... Ora, há vozes destoantes do andar da carruagem? Poucas, raras... No geral, perguntar ofende, imagine criticar... Assim, a empresa traça suas estratégias, cega e cala os fãs pelo afeto!
Então, a indústria cultural hoje tira de todos o que há de mais essencial, as potências afetivas, e oferece produtos fabricados em série e em processos duvidosos.