A expressão é do Nietzsche. Escrita por ele não como interrogação, e sim afirmativamente. Em uma civilização niilista, sujeita ao eterno retorno do mesmo, nada mais lógico do que acreditar que as grandes crises sociais se reconfigurarão e que, novamente, será necessário recolher-se e preservar a cultura a partir de espaços isolados.
Desconectar-se em tempos digitais é uma dificuldade a mais para a manutenção da cultura. Fato é que as redes sociais transformaram o mundo numa grande babel, onde a cultura transita aos encontrões com fake news e delírios coletivos, enquanto os excessos normalizam o grotesco. Tudo tende a tornar-se tedioso, cansativo, banal.
Mais do que nunca me parece que nenhuma teoria dá conta da realidade total. Não há sistema filosófico que corresponda ao cenário heterogêneo e suas dinâmicas complexas em ação acelerada.
O que está acontecedo hoje, nas eleições municipais de São Paulo? Será que as pessoas se tornaram tão viciadas em games, filmes de aventuras e séries a ponto de desejar entregar a direção da maior cidade do pais, economicamente falando, a um agente do caos ainda mais pernicioso do que aqueles que já estiveram ou estão ocupando o poder? Acreditam que a solução para os problemas devem vir de alguém que provoca seus opositores ao ponto de ser agredido, ou promove a agressão física como resposta? É a guerra de todos contra todos o que se deseja, afinal?
O paulistano flerta com a possibilidade de entregar a cidade a um "Coringa" ainda mais mentiroso, mais manipulador, um corruptor da ética ainda mais potente. Parece que se deseja assistir de camarote ao ruir da realidade como ela é... Trata-se de esperança fantasiosa e enganadora, ou excesso de ódio do real?
É tudo ao mesmo tempo agora, me parece. Diluido, misturado e servido... Seja como for, não favorece o estudo, a reflexão, as expressões culturais. Há anos estou às voltas com uma tremenda dificuldade de concentração, de manter o foco, porque as preocupações são muitas e se renovam a cada dia. Quando jovem, eu tinha o sonho de morar em um sítio isolado, no "meio do mato", bem loge das agitações da cidade grande. Hoje nem isso seria o suficiente! Meus pensamentos ainda seriam invadidos pelo wi-fi, ameçados pelos incêndios, pelo ar terrivelmente poluído, pela inconstância do clima que não reconhece mais as estações do ano, pelas decepções de todos os tipos.
Foi Pondé quem disse saber estar diante de uma pessoa que leu pouco quando ela demonstra acreditar que há soluções para os problemas... Acho que já li o suficiente, mas talvez nem seja preciso ler para entender, basta ter vivido o suficiente... Não há receitas prontas, soluções absolutas. Mas, as coisas sempre podem piorar.
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