Há dores das quais a gente não fala... Para mim, que nos últimos anos tanto olhei para as minhas angústias com lentes de aumento, dores que são incomunicáveis até entre os meus próprios “eus” despontam como algo novo.
Só digo que nesta semana, há dois dias, partiu a minha companheirinha, a Teka, a pequena pinscher que me acompanhou no dia-a-dia por quase duas décadas. E foi uma guerreira a minha pequena, desde novembro driblando insuficiências cardíacas, avcs, cirurgia, perda de mobilidade das perninhas. Nos seus últimos instantes de vidas, sentindo seu coraçãozinho cansado, a imagem que me veio à mente foi da cachorrinha alegre, livre do peso da senilidade, das dores, das limitações, correndo num campo aberto, suavemente ensolarado, e me olhando de longe com um meio sorriso na carinha animada e olhar cúmplice de “eu sou sua e você é minha”.
Quis e quero que tudo o que exista seja imaginação e que aquela imagem seja realidade eterna. Que a realidade/imaginação nos separe apenas por diferentes níveis, que algum dia voltarão a se encontrar. Enquanto isso não é possível, sigo por aqui, ainda cercada pelas coisinhas dela, a almofada preferida, as toalhinhas, a caixinha de remédios, a prótese que eu mesma comecei a esculpir em isopor para proteger os joelhinhos frágeis, na esperança de que mais uma vez ela se recuperasse... Testemunhas de que se a imaginação é realidade, não chega a ser sonho que se desfaz... Ela existiu mesmo e esteve comigo por tempo mais longo do que qualquer outro amigo, persistindo, fielmente, na sua dedicação a mim, mesmo quando eu não me dava conta. Por mais que nos últimos meses eu cuidasse dela, nunca deixou de ser ela a cuidar de mim.
E no canto da casa onde ela costumava se acomodar agora está a Maria, a roseira, com suas florzinhas vermelhas... Flores para lembrar minha amiguinha! Que cores alegres e felizes brilhem no seu caminho... Saudades pra sempre nesta vida!
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