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oficial de fundação da Associação Veracidade enquanto pessoa jurídica.
Lugar onde entre as plantas nascem gentes e, entre as gentes, plantas.
Ultimamente eu dei para me ler [me ler?]... Enfim, ando lendo meus próprios textos. Sempre me vem à mente uma fala da Clarice Lispector que dizia nunca reler os próprios textos... Eu também costumo tirar de mim em palavras escritas o que está me incomodando e depois, me sentindo momentaneamente menos pesada, deixo pra lá o que escrevi... Mas, me veio a necessidade de fazer uma arrumação nos meus blogs, como uma forma de organizar a vida e a minha cabeça, então fui ler...
Interessante como os textos adquirem vida própria. Eu mesma, algumas vezes, já não sei bem o que pensava enquanto escrevia alguns deles... Agonias pungentes me parecem agora meio desbotadas. E olhe que eu os escrevi há um ou dois anos atrás! O fato é que algo em mim tem trabalhado incessantemente para jogar pás de cal sobre muita coisa. Me esqueci deliberadamente. Lendo, algo que me chamou a atenção foi a esperança ingênua que expressei com certo projeto e com algumas pessoas... Bem minha cara isso! Sempre querendo acreditar e embarcando ingenuamente. E isso me dá uma certa tristeza... Mas, por outro lado, também me faz pensar no que houve de bom.
Ano passado em fins de maio, começo de junho, passei alguns dias na cidade de São Carlos, interior de São Paulo. Na ocasião, eu estava reunida com um grupo de educadores populares. Convidados por uma educadora que fazia parte do grupo, nos hospedamos em sua casa, na Ecovila Tibá. É um sítio de propriedade coletiva, com uma casa linda, grande e confortável. Após debates e encaminhamentos daqui e dali, fomos conhecer pessoas e instituições atuantes na região. E vi que há um pessoal muito interessante atuando em São Carlos! São jornalistas, sociólogos, economistas e artistas ligados a UFSCAR e outras universidades da região, unidos em projetos sociais. Jovens cheios de novas ideias, cultos, dinâmicos, bem relacionados, dispostos a construir uma realidade diferente e colocando mãos à obra.
Encontrei pessoas que criaram um banco comunitário para concessão de microcrédito a pessoas carentes, outros envolvidos com projetos de comunicação e mídia independente, outros fazendo acontecer projetos relacionados à agricultura orgânica e meio ambiente. Conheci um lugar chamado Fora do Eixo com ótima estrutura para multimídia e artes, e um outro espaço chamado Veracidade que desenvolver projetos de permacultura. Coisas entusiasmantes, principalmente devido ao alto nível de pensamento crítico e politizado dos envolvidos, do comprometimento de cada um deles, senso prático, noção de realidade e contexto social. Uma turma maravilhosa!
Minha última reunião com educadores populares foi aqui em São Paulo, em fevereiro. Na ocasião eu comentei com o representante do Veracidade que não estava entendendo qual a diferença entre o conceito de permacultura e de sustentabilidade. Ele explicou que sustentabilidade é um conceito apropriado pelo capitalismo, que desenvolve imagens institucionais e projetos de marketing de causas baseado nele. Já a permacultura tem como princípio a recusa a esta apropriação, é familiar, comunitária, e ao deixar de ser, deixar de ser permacultura. É um outro jeito de fazer as coisas e de viver, que pode fazer surgir novos jeitos de pensar, de ser, de estar no mundo. Lindo!
E esse moço do Veracidade, na minha modesta opinião, é uma das pessoas mais preciosas que trabalham hoje, no Estado de São Paulo, com educação popular, se não o mais precioso! Meio tímido, quietinho, mas um sociólogo extremamente inteligente, bem informado, que abraça tudo e todos com uma alma aberta, amorosa, generosa, respeitosa, disposta a aprender com os outros e esforçar-se em dar o seu melhor. Ele é encantador! Um líder natural, tanto entre seus colegas de São Carlos, quanto em São Paulo, daqueles que conquistam pelo jeito humilde e acertivo de ser, pelo exemplo de ser gente. Um carisma e um potencial imenso de agregar e mobilizar pessoas. E melhor: gente do bem, que contagia positivamente outras para o bem, indo muito além de receitas prontas.
Suspeito que decepcionei algumas pessoas com a minha decisão de me excluir... Mas, quando o fiz sabia que deixava gente mais apta do que eu para dar sequência... Não me acho melhor nem pior, mas acredito que a cada um cabe um papel nessa vida e em cada momento. Eu sou boa para chutar o balde, abalar as estruturas e limpar o terreno quando necessário. Se for preciso faço e pago o preço sozinha. Por outro lado, conheço gente que no ponto em que deixei é mais capaz do que eu para colocar a casa em ordem. A gente tem que saber reconhecer o que é mais apropriado a cada circunstância. Que assim seja!
Quanto a mim, vou ficar feliz quando conseguir, finalmente, estar no controle do meu rumo. Talvez a gente se reencontre e volte a se juntar lá na frente, talvez não. Quem sabe?
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