Dias desses, passando por aqui, fui surpreendida pelos números. Os contadores me diziam que fecharia 2013 com algo próximo a vinte postagens a menos do que em 2012 e 2011. Embora tenha tido mais tempo vago, escrevi menos. E isso tem muitos motivos.
Momentos de perigo sempre parecem associados a riscos e ou alta adrenalina, como nos filmes de ação. Mas, pode ser o oposto. O limiar é silencioso, estático e até tranquilo. É aquele momento em que não há nada a dizer ou fazer e a esperança, que é sempre a última que morre, sopra um "espere, algo vai acontecer", em defesa da própria existência. O jeito é deixar o mundo girar, pois ele muda a situação de tudo e todos. Esse movimento acaba por impulsionar rumo a saídas para além do nada. Mas, é uma situação em que palavras perdem qualquer importância. Mais uma vez me deparei com a inutilidade das palavras e escrever não fazia nenhum sentido.
A catarse se perdeu ao mesmo tempo em que o mundo girava e eu, novamente aos tateios, vivia um retorno ao passado. Acabei por retomar contato com pessoas que foram fundamentais na minha vida e que estavam perdidas para mim. Eu as procurei e encontrei. Ao contrário de mim, elas não abandonaram a linha reta para se aventurar em terrenos desconhecidos. Ao observá-las percebi que elas também tiveram problemas, decepções, crises, amarguras, mesmo tentando caminhar em linha reta.
Também notei que antigos ideais, mesmo massacrados num mundo de falsos ideais, continuam vivos e gritando alto, mesmo que poucos percebam. Cada um descobriu sua própria forma de viver e de continuar indignando-se. A realidade, moldada pelas corporações, cada vez mais exila os antigos idealistas, mas não os anula. Há sonhos que não morrem e se reproduzem. Para além das ideologias dominantes, estão os sonhadores que, à margem, criam formas de viver seus sonhos. E isto me lembra Anaïs Nin que disse escrever para criar um mundo onde pudesse viver.
Se pretendo continuar escrevendo é exatamente por este motivo, para criar um mundo onde eu possa viver e ajude a vida a se tornar suportável. Mas, isto muda a minha maneira de me relacionar com palavras e textos. Quero passar a tratá-los como artistas que usam materiais para explorar novas possibilidades. E a imagem que me vem é de mulheres que cruzam fios em bordados e tricôs. E é possível usar tantos fios! Muito mais do que supõe minha vã Filosofia.
E Filosofia tão vã, que hoje me parece uma aberração... Academia e acadêmicos, parecem ter esquecido o compromisso ancestral da Filosofia com a felicidade, que os antigos gregos prezaram tanto. Estão em crise, afundados em preconceitos, arrogância, prepotência. Claro, há exceções e apenas por elas não fui ainda mais infeliz neste universo acadêmico. A pior solidão é aquela que a gente viver ao lado de outros solitários, que esperneiam para não assumir a própria solidão.
E por falar em assumir, estou assumindo muito de mim. As minhas carências; a minha incapacidade de lidar com meu maior inimigo que sou eu mesma; o meu sentimento de vazio e desorientação num mundo permeado por uma cultura decadente; o meu desamparo frente ao amor e afetividade líquida (como diria o Zygmunt Bauman); a minha resistência a ser mais uma escrava no rebanho do mundo; a minha rebeldia, talvez inútil, frente à mediocridade dos ideólogos e ao carreirismo acadêmico deslavado e oportunista, que supera a busca pelo conhecimento; a minha consciência de que a lucidez me torna desagradável e uma desajustada à ordem das coisas.
Eu só passei a viver em paz com a minha timidez e a superei quando a aceitei e passei a "ligar o foda-se" para aqueles que pensavam que eu era "metida", "antipática", etc. Não me resta outro caminho a tomar frente aos meus desajustes do que assumir o risco de muitas vezes dizer o que as pessoas não gostariam de "ouvir". Eu sempre acabo fazendo isso, mesmo, e muitas vezes não há melhor forma de agir. Então... Sou, logo escrevo, para dizer o que devo da melhor forma. E basta de academicismos frustrantes e inúteis.