Não sei exatamente quando, nem onde, nem como um sentimento de inutilidade se sobrepôs... Inútil escrever! Palavras não mais davam conta de energias exauridas, de esperanças perdidas, de sonhos frustrados. Não podiam representar uma parcela mínima do desespero de todos os choques acumulados, da sólida descrença.
Prenúncio foi quando me decidi a colorir paredes e adubar vasos e jardins em substituição ao cultivar letras. Isso foi já em 2012. Meu micro-universo concreto se levantava como antídoto contra a ânsia por conexões impossíveis entre real e ideal, entre o espontâneo e o construir para a elevação nesta sociedade de maluquices avançadas.
Sempre espero muito da razão, assim como da sensibilidade e da vocação humana para o superar-se no sublime. Porém, cada vez mais me sinto como coisa fora do tempo e sem espaço.
É, acho que sim... Escrever tinha alguma função vital inconsciente. Era uma espécie de aposta na esperança, confesso... Depois de todo um ano observando a desrazão que campeia; a má vontade e o cinismo de quem não se eleva e puxa quem se esforça para baixo; a ignorância e as ideias preconceituosas daqueles que mais tiveram condições de se instruir; a inveja, o despeito e o ódio se fazendo passar por “conhecimento”; o patológico se fazendo passar por “culto”; o medíocre como sucesso... Palavras não pareciam mais fazer sentido nesta Babel que tudo desconstrói!
Escrever por catarse ou por esperança deixou de fazer sentido. A esperança está abalada e a catarse não acontece. Não sou Alice no País das Maravilhas. Não me sinto confortável diante daqueles que precisam passar a mão sobre a própria cabeça, hoje e sempre, protegendo-se da dor com disfarces e mentiras bem elaboradas em processos circulares de autoengano. E quantas vezes nos últimos meses não me calei para não magoar queridos autoenganados, para não parecer prepotente, baixo astral, estraga prazeres! Ou serei eu mais uma autoenganada? Certamente! E sobre muitas coisas.
Mas, não me sinto confortável com quem nada em águas superficiais. Sou suicida. Do alto da montanha me atiro. Mas, não mais aposto a vida contra zonas de conforto alheio. As pessoas erguem fortalezas para não perder sua terra da fantasia. E depois de um tempo a gente aprende a dar as costas sem lamentar... Até porque o alienado costuma ser mais feliz do que o lúcido. Desde que continue alienado.
E o choque vem de tantas formas... Vem quando aquela pessoa que por anos pregou que se deveria pensar contra e ter ideias próprias, demonstra acreditar que “ter ideias próprias” é sinônimo de “concordar comigo ou ser deletado”... Mas, depois do choque passa a parecer engraçado o que, na verdade, não tem graça nenhuma. É que a graça também é uma forma de amortizar a queda.
Nesta cacofonia deslumbrada, escrever talvez possa ter um único sentido, o de salvar-se fazendo da escrita construção, reconstrução, reforma, redecoração de uma vida... Humilde ato poético de continuar colorindo paredes que acolhem e jardins que florescem em meio ao tricotar palavras... Quero licença poética para fazer da vida um espelho que reflete a vida de dentro para fora. No atual andar da carruagem, o contrário só com acesso restrito.
Momento 2013 para não esquecer... Aquele em que olhando para a última nota da última prova do último ano do meu curso de Filosofia me dei conta de que havia fechado um ciclo. E mais, o sentimento inexplicável, incomunicável, de que algo neste mundo continua trabalhando para o que é essencial e inevitável, mesmo quando a gente se esquece do essencial e do inevitável e se perde... Mesmo quando o que um dia se revelou como importante está no fundo do mais profundo inconsciente... Ainda assim as estruturas do universo continuam trabalhando, conspirando, para o essencial, para o inevitável, independentemente do tempo...
E como saber disso esclarece, para mim, que eu não tenho que estar conectada na rede 24hs por dia para resolver todas as coisas, que eu não tenho que comprar todas as brigas nem todos os celulares e quinquilharias que a indústria quer me convencer de que devo ter para ser uma "pessoa de sucesso"... Sucesso é libertar-se por esforço, é despojar-se por opção, é purificar-se.
Não tenho que viver todas as emoções, conhecer todas as histórias, nem viajar para todos os lugar, nem ter um milhão de amigos... Não tenho que chorar todas as lágrimas lamentando o que não pode ser... Posso fazer do que não pode ser o melhor que pode ser.
Então, que 2013 se vá e 2014 chegue para ser o melhor que puder ser!
.