E eu me calo. Vejo coisas que me agradam e me calo. Ouço coisas que me irritam e me calo... Tenho o sentimento de quem jogou palavras ao vento por tempo demais inutilmente. Inútil porque ninguém ouve. Inútil porque eu não me ouço enquanto grito.
Não sei quem disse que quando não soubermos mais o que nos faz feliz é só lembrar o que ficou para trás... Acho que foi Viktor Frankl, o homem que glorificou os sentidos... E olhei para trás... Mais do que voltar-se é preciso ser sincero sobre o que ficou lá trás (ou não ficou?). E é preciso ter boa memória para que o mau não pareça bom, para que o sonho não pareça real, para que possibilidades não se confundam com fatos. Para que fatos não sejam corrompidos pelo medo!
Mas, olhei para trás...Senti que devia retornar ao âmago das coisa. Ao meu âmago das coisas. Quando não se pode ir adiante permanecer não é opção. O que estaciona morre. O retorno ainda é movimento. E foi lá atrás que encontrei os sentidos dos quais não me lembrava.
A gente esquece até que tem compromissos consigo. É que tanta gente grita! E quando retorno é perda há de se lamentar as perdas, não a falta de opção. Perda ainda pode ser salvação. E quando a gente silencia o mundo gira e mostra outras perspectivas, o mundo gira e muda as peças de lugar.
Me calo e saio do lugar, reconfigurada, sem medo, em silêncio.
"O silêncio foi a primeira coisa que existiu;
um silêncio que ninguém ouvia." - Arnaldo Antunes
.