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Mostrando postagens de maio, 2014

Valesca, a polêmica

Helena Novais, em 14.04.2014. E eis que me vejo na obrigação de parar tudo para escrever o que penso a respeito da polêmica que estourou na semana passada sobre a grande pensadora brasileira Valesca Popozuda. Isto, para que minha opinião fique clara até para mim mesma. Pode ser que depois deste texto também a minha capacidade como “pensadora” seja questionada. Paciência! Em primeiro lugar, ao contrário dos colegas filósofos, ou seja, “pensadores”, o que me chamou a atenção não foi que um professor de filosofia colocasse uma questão de múltipla escolha sobre Valesca Popozuda numa avaliação (não é função da filosofia investigar conceitos e fenômenos?). Muito menos que o enunciado se referisse a ela como uma “grande pensadora” (e a ironia socrática?). O que me deixou um tanto quanto estarrecida foram os comentários debochados, de uma agressividade velada ou explícita e sempre cruel para com a moça em questão e, acima de tudo, superficiais quando vindos de quem se entende como ...

Neuromancer, de Willian Gibson (III)

“— Ei, Case — ela disse, mal pronunciando as palavras. — Está escutando? Vou te contar uma história... — Ela se virou e inspecionou o corredor. — O nome dele era Johnny. (...) — Sabe, meu Johnny era um garoto muito inteligente, supersacado. Começou como armazenador em Memory Lane, tinha chips na cabeça e as pessoas pagavam para esconder dados ali. A Yak [Yakuza) estava atrás dele na noite em que a gente se conheceu, e eu matei o assassino deles. Foi mais sorte do que qualquer coisa, mas fiz aquilo por ele. E, depois disso, as coisas foram muito bonitas, Case. — Os lábios dela não se moviam. Ele a sentia formar as palavras; não a ouvia formá-las em voz alta." (p. 208) "— Nós tínhamos um esquema com um SQUID, para podermos ler os vestígios de tudo o que ele já havia armazenado na vida. Salvamos tudo aquilo em fita a e começamos a espremer clientes selecionados, ex-clientes. Eu cuidava da bagagem, da vigilância e da porrada. Eu era feliz de verdade. Você já foi feliz, Case? Ele ...

Neuromancer, de Willian Gibson (II)

“— Parece que é sim. Escuta, Dix, e me dê o benefício de seu background, ok? Armitage parece estar montando uma incursão em uma IA que pertence à Tessier-Ashpool. O mainframe fica em Berna, mas está linkado a outro no Rio. O Rio foi o que te deixou com linha morta daquela primeira vez. Então, parece que eles se linkam via Straylight, a base da T-A, lá no final do fuso, e a nossa missão deveria ser abrir caminho cortando com o ICE-Breaker chinês. Então, se Wintermute está bancando esse show todo, está nos pagando para queimá-lo. Ele está queimando a si mesmo. E alguma coisa que chama a si mesmo de Wintermute está tentando cair nas minhas graças, tentando fazer talvez com que eu pegue o Armitage. Qual é a parada? — Motivação — disse o constructo. — Problema verdadeiro de motivação em uma IA. Não é humana, entende? — Sim, claro, ora. — Não. Quero dizer, ela não é humana. E você não tem controle sobre ela. Eu também não sou humano, mas eu reajo como um. Entendeu? — Espera um segundo — d...

Neuromancer, de Willian Gibson (I)

“Na época, operava num barato quase permanente de adrenalina, subproduto da juventude e da proficiência, conectado num deck de ciberespaço customizado que projetava sua consciência desincorporada na alucinação consensual que era a matrix. Ladrão que trabalhava para outros ladrões, mais ricos, empregadores que forneciam o software exótico necessário para penetrar as muralhas brilhantes de sistemas corporativos, abrindo janelas para fartos campos de dados”. (p. 24) “ Danificaram seu sistema nervoso com uma micotoxina russa dos tempos da guerra. Amarrado a uma cama de um hotel em Memphis, seu talento queimando mícron a mícron, alucinou por trinta hora.  O estrago foi minucioso, sutil e profundamente eficiente. Para Case, que vivia até então na exultação sem corpo do ciberespaço, foi a Queda . Nos bares que frequentara no seu tempo de cowboy fodão, a postura da elite envolvia um certo desprezo suave pela carne . O corpo era carne. Case caiu na prisão da própria carne”. (p. 24) “Juliu...

In Memorian

Ele foi um homem meio temperamental e a maior parte de seus funcionários tinha medo dele. Uma de minhas amigas mais queridas foi sua secretária e o detestava. As pessoas temem a combinação de dinheiro com poder, isso sim. Fosse um “zé ninguém” com crises ocasionais de fúria e não dariam maior importância, talvez até achassem engraçado. Mas temem quem pode mudar o curso de suas vidas com uma frase. E ele podia. Eu, por natureza, não o temia, pelo contrário. Ele sempre me tratou bem, sempre foi até surpreendentemente gentil e educado e meus sentimentos primeiros por ele eram como os de uma filha para com um pai. Eu o respeitava e me sentia protegida. De cara percebiam que tínhamos algo em comum, a pinta no meio da testa (que mais tarde ele retirou por recomendação médica), coincidência que curiosamente causava certos incômodos para terceiros.  Quem já trabalhou conhece bem o tipo: o chefe que se sente ameaçado e espalha intrigar por onde passa, jogando uns contra outros, envenenando ...