Ainda sobre os meus flertes com o Oriente…
Em algum momento entre 2012 e 1015 alguém me convidou para um encontro com monges budistas. O evento aconteceria em um espaço próximo à avenida Liberdade, no bairro homônimo, num dia da semana, à noite. Não me lembro do nome do lugar… Mas, fui. E lá aconteceu o meu primeiro contato com a Monja Coen, hoje bem conhecida em todo o país. Gostei bastante! Fiquei bem interessada em continuar aprendendo com ela que, na época, estava vinculada a um templo no bairro do Pacaembu (e continua). E ali, na época, as atividades deviam ser pagas, e bem pagas.
Compreensível que monges tenham necessidades materiais que precisam ser atendidas por meio de retribuição à transmissão de seus conhecimentos. Como poderia ser diferente? Mas, como os valores não pareciam se harmonizar com a minha condição, deixe passar.
Tempos depois, Monja Coen tornou-se “influenciadora digital”. Sua conta no YouTube começou a publicar vídeos com orientações/aconselhamentos e eu costumava receber os avisos de publicação… Assisti a
pouquíssimas. Depois de um tempo aquilo passou a me irritar.
pouquíssimas. Depois de um tempo aquilo passou a me irritar.
Não, não quero desmerecer o trabalho de ninguém.
É que eu, pessoalmente, sinto uma imensa dissonância entre a ideia de uma filosofia profundamente contextualizada historicamente e, nesse sentido tradicionalista… E vídeos para Internet, publicados ao ritmo das máquinas... Não é a mesma coisa. Não tem como ser a mesma coisa… A desarmonia diz respeito a experiência sensorial e temporal...
Uma coisa é estar em um tempo, sentindo os cheiros e temperaturas; percebendo os sons, os timbres, o burburinho circulando no espaço (ou ausência deles); vendo as cores, sentindo as texturas ou tessituras… Outra coisa é assistir a um vídeo… E alguém poderia dizer “bem, é possível usar a imaginação para elevar o pensamento e se colocar em um ambiente x”… Sim! Inclusive essa é uma técnica bastante usada… Mas não é a mesma coisa.
E pior, os tempos da Internet e de suas redes sociais não são o tempo da transcendência espiritual… Pelo contrário, ambas são planejadas para atravessar os tempos das pessoas e moldá-los ao tempo das máquinas, e viciá-las… Nada me parece mais agressivo ao cultivo da interioridade do que a Internet, e hoje eu meio que fujo dela para conseguir preservar alguma quietude e independência de pensamento... Então, no meu entender, não são coisas conciliáveis.
No fim das contas, o budismo de Internet, perfeitamente aliado às forças de mercado, me soa como os livros de autoajuda com suas receitas prontas de felicidade… Simplista e banal!
Mas, claro, isso não é tudo. No fim das contas talvez os budistas que estão na Internet considerem as ferramentas de rede de modo estratégico, com a intenção de atrair público para práticas mais consistentes… Aí sim, pode ser uma ideia mais coerente e promissora. Vale mais à pena programar-se financeiramente para participar de certas atividades, ou ainda procurar modos alternativos, do que ser arrastado pelos fluxos digitais.