[ Publicado originalmente em 01 de dezembro de 2013 ]
E enquanto olhava a nota na tela do computador e compreendia o final deste percurso, a imagem que me veio à mente foi a de uma adolescente que folheava livros de astronomia na biblioteca municipal de São Caetano e pensava: “Um astrônomo só observa estrelas pelo telescópio... Quem vai me pagar para observar estrelas? Se eu estudar astronomia de que vou viver?” A filha de uma empregada doméstica e de um metalúrgico, neta de lavradores e pescadores, sobrinha de pedreiros, não fazia ideia... Mas vivia com a cabeça nas coisas suspensas... Se interessou por Carl Sagan e pelas estrelas; se interessou pelos aviões e pela aeronáutica, apenas para descobrir que o Instituto de Tecnologia Aeroespacial, na época, não aceitava mulheres... E acabou passando anos e anos trabalhando em escritórios, envolvida em atividades que não lhe davam satisfação. Mas, nunca abriu mão dos livros. Foram anos devorando livros e aprendendo tudo o que eles podem me ensinar, antes de chegar à faculdade.
Ao terminar o curso de Filosofia, o que indiretamente me veio à mente, foram os filhos de pais humildes que desperdiçam seu potencial por não encontrar as portas certas... E me lembro que nas últimas reuniões de que participei na Rede de Educação Cidadã, em Brasília e em São Paulo, chamei a atenção para a necessidade de colocar o máximo de pessoas do povo em condições de discutir, em pé de igualdade, com os intelectuais. O conhecimento que importa, não é apenas ideológico e político, mas filosófico, crítico, científico, intelectual... Não é possível que poucos continuem decidindo os destinos de todos! A educação popular precisa assumir o compromisso de ir além do óbvio.
Como disse a Rosa Luxemburgo e eu não me canso de repetir, "liberdade é sempre a liberdade de quem pensa diferente", mas completo: o técnico, o cientista, o intelectual ideal são aqueles que trabalham para a humanidade, não apenas para quem lhes paga salários. O conhecimento, que é direito do povo e não privilégio de elites, não pode permanecer enclausurado nas bibliotecas, enquanto a mente dos jovens permanecem dominadas pelas banalidades propagadas pela publicidade e pela mídia. Certos filósofos que estão na mídia e nas redes sociais, disseminando preconceitos e intolerância, propagando ódio para calar as vozes alheias, fariam muito melhor se dessem o bom exemplo empenhando esforços na educação do povo para o povo.
No que me diz respeito, nos últimos anos tropecei em erros que no final se revelaram acertos, pois “quem tem um sonho não dança” e os meus sobreviveram de alguma forma, apesar de tudo... E hoje, claro, sei de que vivem os astrônomos... A ciência é a última fronteira que se levanta no meu horizonte. E se é tarde para mim, certamente não será para outros jovens para quem eu possa mostrar portas.
Foto: Oleg Oprisco, em http://lugage.com.br/2014/03/09/a-arte-de-oleg-oprisco/
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Por vários anos estive envolvida nos trabalhos da associação de moradores do meu bairro, a Associação Comunitária Girassol. A entidade tomou como objetivo desenvolver projetos culturais e esteve ativa por cerca de uma década, até que há alguns meses decidiu fazer uma pausa para avaliar os rumos dos movimentos sociais e o papel que assumiria. Desde então, muitas reflexões foram surgindo, sempre com a certeza de que aprender e ensinar são processos indissociáveis.
Dia destes notei um comentário de uma ex-educanda da turma de Hip Hop da Girassol. Ela, que quando surgiu na entidade era uma menina, hoje é praticamente uma mulher e anuncia sua determinação de lutar por seu sonho: ser aeromoça. E seu anúncio me deu o que pensar... Me falou dela, da Girassol, dos movimentos sociais e falou de mim mesma... E foi envolvida pelas reflexões impulsionadas pelo anúncio da nossa futura aeromoça, que no começo desta semana, recebi minha nota de Estética e soube que o meu martírio filosófico acabou... Depois de abandonar a disciplina no final do curso, passar um ano inteiro lutando contra uma depressão e tirar forçar nem sei de onde para retomar os estudos... O meu curso acabou!
Dia destes notei um comentário de uma ex-educanda da turma de Hip Hop da Girassol. Ela, que quando surgiu na entidade era uma menina, hoje é praticamente uma mulher e anuncia sua determinação de lutar por seu sonho: ser aeromoça. E seu anúncio me deu o que pensar... Me falou dela, da Girassol, dos movimentos sociais e falou de mim mesma... E foi envolvida pelas reflexões impulsionadas pelo anúncio da nossa futura aeromoça, que no começo desta semana, recebi minha nota de Estética e soube que o meu martírio filosófico acabou... Depois de abandonar a disciplina no final do curso, passar um ano inteiro lutando contra uma depressão e tirar forçar nem sei de onde para retomar os estudos... O meu curso acabou!
E enquanto olhava a nota na tela do computador e compreendia o final deste percurso, a imagem que me veio à mente foi a de uma adolescente que folheava livros de astronomia na biblioteca municipal de São Caetano e pensava: “Um astrônomo só observa estrelas pelo telescópio... Quem vai me pagar para observar estrelas? Se eu estudar astronomia de que vou viver?” A filha de uma empregada doméstica e de um metalúrgico, neta de lavradores e pescadores, sobrinha de pedreiros, não fazia ideia... Mas vivia com a cabeça nas coisas suspensas... Se interessou por Carl Sagan e pelas estrelas; se interessou pelos aviões e pela aeronáutica, apenas para descobrir que o Instituto de Tecnologia Aeroespacial, na época, não aceitava mulheres... E acabou passando anos e anos trabalhando em escritórios, envolvida em atividades que não lhe davam satisfação. Mas, nunca abriu mão dos livros. Foram anos devorando livros e aprendendo tudo o que eles podem me ensinar, antes de chegar à faculdade.
Ao terminar o curso de Filosofia, o que indiretamente me veio à mente, foram os filhos de pais humildes que desperdiçam seu potencial por não encontrar as portas certas... E me lembro que nas últimas reuniões de que participei na Rede de Educação Cidadã, em Brasília e em São Paulo, chamei a atenção para a necessidade de colocar o máximo de pessoas do povo em condições de discutir, em pé de igualdade, com os intelectuais. O conhecimento que importa, não é apenas ideológico e político, mas filosófico, crítico, científico, intelectual... Não é possível que poucos continuem decidindo os destinos de todos! A educação popular precisa assumir o compromisso de ir além do óbvio.
Como disse a Rosa Luxemburgo e eu não me canso de repetir, "liberdade é sempre a liberdade de quem pensa diferente", mas completo: o técnico, o cientista, o intelectual ideal são aqueles que trabalham para a humanidade, não apenas para quem lhes paga salários. O conhecimento, que é direito do povo e não privilégio de elites, não pode permanecer enclausurado nas bibliotecas, enquanto a mente dos jovens permanecem dominadas pelas banalidades propagadas pela publicidade e pela mídia. Certos filósofos que estão na mídia e nas redes sociais, disseminando preconceitos e intolerância, propagando ódio para calar as vozes alheias, fariam muito melhor se dessem o bom exemplo empenhando esforços na educação do povo para o povo.
No que me diz respeito, nos últimos anos tropecei em erros que no final se revelaram acertos, pois “quem tem um sonho não dança” e os meus sobreviveram de alguma forma, apesar de tudo... E hoje, claro, sei de que vivem os astrônomos... A ciência é a última fronteira que se levanta no meu horizonte. E se é tarde para mim, certamente não será para outros jovens para quem eu possa mostrar portas.
Meu eterno agradecimento a Irmã Leonizia Izabel e Congregação das Irmãs de Santa Doroteia!
Aos meus amigos Tereza dos Santos e Daniel Borgoni, que nos últimos anos nunca deixaram passar mais do que poucos dias sem perguntar se eu estava bem e disponibilizar seus ouvidos... Eu não teria conseguido sem eles.
Foto: Oleg Oprisco, em http://lugage.com.br/2014/03/09/a-arte-de-oleg-oprisco/
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