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Sonho Recorrente


Na última madrugada sonhei que um homem, que realmente conheci anos atrás, ia periodicamente à minha casa, participar de discussões de análise da sociedade. Eu o via junto a outras pessoas, todos em uma sala, reunidos ao redor de uma mesa e, vez ou outra, assistindo a documentários e slides projetado em uma tela de TV. Eu não participava desses encontros, ele não sabia da minha ligação indireta. Ele não sabia que era a minha casa, nem que a mulher que recebia o grupo de estudos era a minha mãe. As imagens que eu via eram como recortes do tempo/espaço. Não sei como o tal grupo havia sido criado ou por iniciativa de quem, como aquele homem havia aderido e chegado ali. No fim, eu considerava se devia revelar a ele ou não que ele estava na minha casa, sendo recebido pela minha mãe… A ironia era a coincidência, que ele ignorava e eu não.

Interessante como a minha mente juntou fragmentos e, no sono, me enviou um “filme” completo, tão lógico e coerente!

O que de início impulsionou tal roteiro, creio, foi um vídeo que assisti durante o dia, publicado pela @esquerdogata79. Ela fala sobre suas fragilidades emocionais e, à certa altura, conta que “brigou com Deus” quando ele tirou dela o homem que ela amava (entendi que ele faleceu). O vídeo me impactou muito, porque inesperado. Destoante do perfil politicamente debochado das publicações da Aline Dutra. E sei do que ela fala, quanto ao “brigar com Deus”. É uma decepção profunda, misturada com mágoa, que acaba por nos apartar.

A ideia de grupo de estudos que se reúne faz parte dos meus projetos de trabalho e das atividades daquele homem, eu sei. Analisar para influenciar é o que fazemos, cada um a seu jeito e com seus objetivos.

A ideia dos vídeos projetados em tela de TV em parte vem do diálogo que tive durante o dia com a minha advogada, sobre um processo que envolve a compra de uma TV, e, em parte, tem relação com o episódio de ontem da novela da Globo, "Mania de Você". Um personagem instala câmeras no apartamento de outra personagem e passa a observá-la sem que ela saiba (inspirado em “Invasão de Privacidade”, o filme?) por meio de telas LCD.

Sempre tenho sonhos que seguem esse padrão. Sempre há um “algo a ser dito, ou não”, que poderia ter sido dito, mas acaba não sendo… No sonho como na vida, nada posso fazer contra as crenças inadequadas que outros têm a meu respeito e que acabam por impedir relacionamentos serenos e normais.

A “briga com Deus”, no meu caso, se deu devido às coincidências passadas, que só eu percebia, e das acusações de que fui vítima por causa delas. Deus na época me pareceu um sádico... As coincidências, como e na frequência em que aconteciam, soavam para mim como sinais que prometiam um bom encontro de almas, mas no fim só concorreram para escancaram o meu baú de traumas. Fechá-lo novamente me custou muito, muito, mesmo! Por anos tive de lutar sozinha com os meus fantasmas… Que Deus é esse que brinca com o que é mais sensível em mim? Entendi que a minha compreensão de Deus não fazia nenhum sentido, e a joguei no lixo! Foi mais um rompimento.

Estou dizendo que me tornei uma ateia ou inimiga de Deus? Não. Estou dizendo que passei a não acreditar na ideia de um Deus antropologizado. Acreditar nisso seria acreditar na existência em um ser racional supremo que causa sofrimento e ou que não se importa. Tudo o que vive sofre e nenhum argumento cristão se sustenta diante da quantidade de dor presente no mundo.

Aline se diz pronta a se reconciliar com Deus. Não sei o que ela entende por “Deus”, mas sei que eu não estou no caminho de me reconciliar com a ideia de um Deus antropologizado. Porém, escolho prestar reverência ao que me é superior, porque sempre haverá conhecimento superior como uma luz no horizonte... Quero caminhar rumo ao horizonte e o faço reconhecendo e respeitando o que está à frente na caminhada. E nada pode estar mais adiante, como detentora de sabedoria, do que a Natureza. Assim, procuro cultivar uma espiritualidade “naturalista”. Escolho a Natureza como o meu Deus amoral, indiferente, porque pura dinâmica em si mesma. Amo, admiro, reverencio!

Sobre a questão em aberto colocada pelo sonho... Me revelar, ou não?
O dilema se dá por dois motivos reais: 1) como em outras vezes, aquele homem diria se tratar de uma perseguição planejada por mim. A paranoia dele faz parte dos meus traumas. Na verdade, os traumas dele reativaram os meus. 2) que importância isso teria para quem está tão distante há anos? A resposta me parece óvia. Nenhuma, pois ele nem se lembra de que eu existo. A tendência dele a acreditar no pior (que ele projeta em mim) e a indiferença dele também fazem parte dos meus traumas.

Conheço duas versões desse homem. Uma que eu não sei se sobreviveu e que me interessaria, como sempre interessou, porque temos muitos parâmetros em comum para avaliar as coisas do mundo. Sei que não se trata de uma pessoa ruim e insisto: meu lugar de paz, que favorece o meu tipo de criação, é entre iguais. Com os diferentes eu tenho divergências e, no máximo, conflitos úteis... Com a outra versão, a ambiciosa, que com certeza predomina, tenho muito pouco ou nada em comum. Mas, também com ela poderia haver algo de positivo a aprender.

A troca, o vivenciar, o aprender, o ir além, é sempre o critério de realização válido para mim. Com as rupturas e estagnação eu sempre tive e tenho dificuldades para lidar, pois é um não mover-se contrário à minha natureza... Por isso, os sonhos.