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Mostrando postagens de setembro, 2013

Antígona, novamente

Há exatamente dois anos, estudando Estética, o professor fazia com que minha turma lesse Antígona, a tragédia Grega. Uma leitura conjunta do tipo jogral. Mas, eu não precisava ler Antígona para saber que estava vivendo uma tragédia pessoal. Vivia o sentimento de que toda a minha vida estava fatidicamente destinada a precipitar-se num abismo, que então se abria à minha frente. Aprendi muito bem o que é uma tragédia e o que é cair em abismo. Justamente por ter vivenciado tão plenamente é que a situação acadêmica agora se repete. O mesmo professor renovou a sua proposta e, novamente, estou em situação de ler Antígona, a tragédia, com os colegas estudantes. Nesse meio tempo, o que eu ainda não aprendi é sobreviver a tragédias. Ou melhor, aprendi que a gente não sobrevive. A Helena que lia Antígona há dois anos morreu. Não é a mesma que lê Antígona hoje. E esse novo ser que surgiu, essa nova configuração que eu ainda não conheço, ainda não sabe bem como existir neste tempo confuso. Não sabe...

Milagre

Você acredita em amor à primeira vista ? Não conheço um amor que não me tenha nascido à primeira vista, em um tropeçar em alguém e sentir que ali, diante de mim, está um ser diferenciado. Não importa se é alto ou baixo, magro ou gordo, bonito ou feio, pobre ou rico. O que conta é aquela identificação inexplicável, repentina, surpreendente e paralisante. Um comunicar-se sem palavras, um sentimento profundo de falar uma língua comum que flui de uma forma que a gente não entende e nem precisa entender, pois não é para entende apenas viver. É como se todo o universo houvesse conspirado para que aquela pessoa se revelasse naquele exato momento e o mundo mudasse de cor pelo encontro de dois seres complementares. Daí duas crianças se olham nos olhos maravilhadas, como se vissem o mar pela primeira vez e se dessem conta de que podem navegar porque a distância lhes pertence. O mundo fica imenso, mas todo concentrado ali, naquele encontro. E eu havia me esquecido de como isso é lindo, de como mi...

Superfícies

Dia desses acordei de manhã, preparei meu café e fui tomá-lo no quintal, aproveitando o solzinho que despontava. Distraidamente, olhei pro lado e vi pequenas ramagens que cresciam entre o piso e o muro. Pareciam arvorezinha em miniatura... Num flash me veio a imagem de pessoinhas andando entre aquelas coisinhas verdes e por instantes me vi transportada para uma época remota da minha vida, época em que eu desenhava pessoinhas no papel, as coloria, recortava e criava para elas pequenas historinhas, pequenos universos... Eu as colocava dentro de pequenas casinhas, construídas por mim com pequenos pedaços de tijolos, madeiras e outros materiais. Ali aquelas pessoinhas “viviam”. Eu era o Deus que as fazia existir e ordenava seus dias. Na minha cabecinha infantil a vida delas era linda e perfeita. Eu devia ter uns 5, 6 anos, talvez menos... Naquela manhã, ao retornar do meu déjà vu me surgiu a questão: será que Deus também faz isso com a gente? Nos faz existir, nos dá um mundo de acordo com...

Contato, o Filme

“A pergunta que eu me faço é: somos mais felizes como raça humana, o mundo é fundamentalmente um lugar melhor por causa da ciência e da tecnologia? Nós compramos coisas de casa, surfamos na web, mas ao mesmo tempo nos sentimos mais vazios, mais sozinhos e mais isolados uns dos outros do que em qualquer outra época da humanidade. Estamos nos tornando uma sociedade sintetizada...”

Qual é o problema de ser introvertido?

 O texto é da Carmen Guerreiro . Reproduzo aqui porque me vi nele tão perfeitamente que é impossível ignorar. Tirando a tal invejinha dos extrovertidos, coisa que superei na adolescência, sou eu... Hoje introvertida sem culpa. Mais de uma vez, eu digitava quietamente no meu computador no trabalho (para os que não sabem, sou jornalista e trabalho em uma redação, em uma editora de revistas, e redações em geral mantêm um nível razoável de barulho e conversa) quando o diretor de redação comentou com o meu chefe, na minha frente: “Mas ela não fala, não?” ou “Que silêncio nesse canto aqui, hein?” Eu fico sem graça. Me sinto na obrigação de dar uma justificativa para o meu comportamento recluso, ainda que o comentário seja uma brincadeira. Eu poderia ser uma daquelas pessoas que contam as piadas que todos dão risada, que fazem um comentário sagaz sobre a conversa geral, mas não sou. Mas não é culpa do diretor de redação. Ele é uma pessoa bacana que apenas chamou atenção para uma opinião ...

Emily e Jane

Não raro filmes antigos soam ingênuos, bobinhos. Este pode soar até meio fútil. Mas, é mera aparência... Ele fala de uma época em que os preconceitos contra as mulheres eram muito evidentes e até amparados pela lei, ou pela ausência da lei. A mulher que não contasse com a "generosidade" do pai, do irmão ou de um "bom" marido encontrava sérias dificuldades para sobreviver. Além de "Razão e Sensibilidade", outro exemplo é "Orgulho e Preconceito", ambos criações de Jane Austen que foram levadas ao cinema em até mais de uma versão. Outro que revi recentemente é "O Morro dos Ventos Uivantes" de Emily Brontë.  Este não tem a leveza dos dois anteriores. É angustiante, trágico, visceral! Na verdade, o cinema não carece de histórias de amores trágicos causados por preconceitos de gênero, de raça, de classe...  Elas praticamente nasceram com o próprio cinema. O resto da minha vida não bastaria para fazer um levantamento de títulos e comentá-los. ...