Não tenho dúvidas de que nos últimos dez anos a pessoa que mais influenciou as bases da minha formação foi o meu professor de Filosofia Política no Bacharelado, meu orientador de iniciação científica. Dele eu guardo dois excelentes conselhos: 1) pensar contra; 2) escrever a partir das minhas experiências de vida.
“Pensar contra”, não para “ser do contra” ou entrar em disputas do tipo “quem sabe mais”. Mas, no sentido de procurar as falhas de uma teoria, de maneira a ajudar a aperfeiçoá-la ou refutá-la, sempre com a motivação de construir novos conhecimentos. Ninguém sabe tudo. Porém, a partir do que outros pensaram é possível ir além, conjuntamente, acrescentando novos tijolos à construção da cultura de toda a humanidade.
Demorei muito a entender como as minhas encucações poderiam ser transformadas em Filosofia… Por muito tempo não fiz ideia! Como as minhas lamúrias poderiam se converter em Filosofia? Ora, o sofrimento é o caminho...
Ano passado, 2019, voltei a assistir suas aulas no Mestrado. E ele voltou a enfatizar a importância de escrever a partir das próprias experiências… Seus exemplos são os iluministas franceses, obras como Os Devaneios do Caminhante Solitário, de Rousseau, O Filósofo Ignorante, de Voltaire… Nessa linha acabei me interessando bastante por Voltaire. Li Cândido e o Otimismo, que evidenciou, para mim, o quanto Voltaire foi importante para Nietzsche.
Em algum lugar do Ecce Homo, Nietzsche menciona seu vício em livros e que estava decidido a parar de ler obras alheias para dedicar-se a escrever sua própria filosofia… Esse é o ponto em que, para mim, o mistério se resolveu.
Antes ou depois de Ecce Homo Nietzsche não fez mais do que falar da sua própria forma de assimilar, de processar e de transformar a cultura, a partir de "filtros" e modos que só ele poderia usar, porque eram apenas dele. Assim, como fizeram os iluministas franceses ou quaisquer outros pensadores autênticos.
Penso que ao optar pela busca da verdade absoluta e do universal um pensador deixa de lado o mais importante: as múltiplas perspectivas da totalidade e a importância do seu ponto de vista único, aquele mais intrínseco... O sujeito, sendo quem é e sem ser qualquer outra coisa, é produtor de perspectivas.
Daí, que escrever filosofia passa, incontornavelmente, por interpretações individuais do mundo, pela experiência individual a partir da autenticidade do sujeito, pela interiorização das vivências. A escrita é a associação da subjetividade aos códigos de linguagem. A organização dos textos resultantes são testemunhos de uma vida. E a Filosofia pessoal são as soluções encontradas pelo homem ou mulher que pensa, expostas nos seus textos de forma organizada.
Assim, Filosofia ou é reflexo do que pensa aquele que reflete a partir do âmago de si mesmo... Ou é apenas autoengano, vaidade, pretensão.
Imagem, fonte: http://tendencee.com.br/2018/11/artista-usa-diferentes-quebra-cabecas-brilhantemente-para-criar-montagens-surreais/