Meus blogs pessoais sempre atenderam a necessidades terapêuticas. Neles eu falo comigo mesma, já que falar com psicólogos seria por demais dispendioso. E parei de escrever em blogs há mais de um ano e meio, porque não estava conseguindo atingir o estado de concentração adequado aos profundos mergulhos existenciais. Vários pensamentos surgiam na minha mente o tempo todo, como pipocas pulando em uma panela. Na época, isso me pareceria o efeito do uso das tais redes sociais, do muito tempo conectada a fluxos de informação que evoluíam em ritmo acelerado. Ainda aceito essa explicação.
Alguém já disse que as redes sociais vão destruir a Internet. A Internet eu não sei, mas certamente elas podem destruir muitos neurônios... Como não sou de me abandonar ao que me arrasta (pelo menos não por muito tempo) e tenho colocado a meu favor a minha capacidade de perder o interesse por aquilo que não acrescenta oportunidades de bons aprendizados, resisti.
E, resistindo, me desafiei a fazer, e fiz, um Mestrado. E, resistindo, me desafiei a encontrar, e encontrei, novos rumos em meio à pandemia que fustigou este 2020. Para mim, 2020, foi quase um ano sabático. "Quase" porque insperado e involuntário. Ao contrário do que acontece com as pessoas normais deste mundo, o isolamento não me incomodou nem um pouco. Na verdade, eu já vivia voluntariamente isolada muito antes da pandemia. Na verdade, eu tenho me sentido isolada a minha vida inteira, então estou adaptada a isolamentos. Não é um problema, pois aprendi a respeitar os meus limites e a amar a minha solitude.
E explico: sou sinceramente e profundamente preocupada com o bem-estar das pessoas, com as condições e os rumos da sociedade, com o que eu posso fazer para ajudar este mundo a ser melhor para todos. Respeito profundamente e sinceramente as diferenças. Tenho profunda reverência pelo que me é diferente, pois se na companhia dos meus iguais eu me resguardo e me fortaleço, no contato com o diferente eu aprendo novos modos de perceber o mundo e expando as minhas capacidades de compreender. Mas, amo a minha solitude! Todas as vezes que tentei abrir mão dela para ser mais sociável, para "me misturar" mais, para ser o que outros aprovariam, para viver uma vida normal, comum... Foi um desastre! As minhas energias não se ajustam à sociabilidade. É a minha condição natural, biológica. Teria eu algum tipo de autismo leve? Não sei e não vou saber. De qualquer forma, o melhor que posso fazer - para mim e para os outros -, é respeitar a minha própria condição.
E daí que 2020, com todas as suas muitas e terríveis mazelas, trouxe, para mim, oportunidades de descansar e de me reconectar comigo mesma, me reconhecer e identificar caminhos mais de acordo com as minhas características pessoais. Fato é que aquilo me torna diferente também determina o que apenas eu posso fazer, do meu jeito único. Entendo que novos rumos para a minha vida só são mais acertados à medida que correspondem àquilo que só eu posso fazer. E prefiro ser uma versão spinozana feminina... Prefiro permanecer "polindo as minhas lentes" a vender a minha alma no mercado...
Em 2020 defendi meu Mestrado, dedicado ao estudo de Nietzsche, seu conceito de super homem frente ao conceito de trans-humano. Não posso, e não pretendo, fugir das minhas próprias conclusões: o ser humano que não se liberta é escravo das circunstâncias e a única libertação possível é ser a minha própria essência e a minha própria reinvenção, para além do bem e do mal, e de todas as tristezas... A invenção continua... O objetivo não é ser a melhor em algo e sim ser a melhor versão de mim mesma, eu plenamente, para mim e para o mundo... Transvalorando! Numa época tão estarrecedora, marcada por tantas tristezas, perdas e momentos de desesperança, talvez esse seja o maior ponto de equilíbrio que se possa alcançar.