(08 de abril de 1979 - dezembro de 2020)
Meu primeiro contato com a arte desse finlandês foi em fins da década de 90. Cheguei a ouvir o Sinergy (1997-2004), quando a banda estava nos seus primeiros dias, por meio de fita K-7, gravada por algum amigo... Na época, quem me chamou a atenção primeiro foi a Kimberly Goss, a vocalista que passava longe do estereótipo da "roqueira gostosa". Uma garota com traços orientais, meio acima do peso, voz poderosa, cheia de atitude e nada apelativa, sexualmente falando. A Kim agia naturalmente e era parte da turma dos rapazes, como eu mesma me esforçava para ser. Não havia conotação sexual em primeiro lugar, e sim grandes amizades num momento da vida em que tudo é novidade e a existência parece ser uma aventura sem fim. A Kim acabou se tornando a primeira esposa do Alexi e, ao que parece, uma amiga para a vida toda, embora tenham se separado mais tarde.
Com o Children of Bodom (1993-2019) tomei contato pouco depois do Sinergy. COB foi fundada pelo Alexi e Jaska Raatikainen, o baterista, e lançou seu primeiro álbum em 1997. Na época eu gostava do som com ganchos sinfônicos, mas não gostava do vocal. Na verdade, eu achava horrível o vocal do Alexi e pensei "um dia eu vou ouvir esses caras com mais atenção, agora não porque essa voz não dá pra mim". Não faz muito tempo que parei para ouvi-los. Não sei bem em que ano, mas o fato é que ouvi-los me fez entender as bandas de heavy metal extremo com outra percepção, e isso mudou muita coisa e me ajudou muitíssimo!
Alexi Laiho sempre disse em entrevistas que sua grande inspiração foram os filmes de terror dos anos 80 e 90. Freddy Kruger foi uma figura importante no desenvolvimento do conceito do COB, além dos crimes acontecidos no Lago Bodom, claro... Quando comecei a ter crises de pânico noturno e cheguei a pegar medo de dormir, estava ouvindo muito COB. A ligação de Laiho com Kruger, então me pareceu uma coincidência incompreensível, como são todas as coincidências... Mas, tomar consciência disso teve algum efeito benéfico que eu não sei explicar. Algo como transformar os tormentos pessoais em arte? Tudo na minha vida tem me levado para essa concepção!
De qualquer forma, sempre ouvi dizer que com o tempo, à medida que a idade vai avançando, as pessoas passam a ouvir músicas mais calmas. Comigo foi exatamente o contrário. Eu precisava de algo que me tirasse da letargia. De repente, o vocal do Alexi não me incomodava mais. Pelo contrário, soava como uma agressividade peculiar que me despertava. E mergulhei na música do Children of Bodom. Ouvi seus álbum por meses e meses seguidos.
E entendi que, como o próprio Alexi dizia de longa data, o COB é muito cinematográfico, pois conceitual, narrativo, climático, denso e intenso... Entendi que aquele vocal é o de uma persona que sobe ao palco e lidera uma performance coletiva e conceitual. E assim acontece com as bandas de metal extremo. Ninguém pode esperar que os músicos vivam a agressividade e a violência das emoções extrema nas 24 horas de seus dias. Não seria saudável nem humano.
O extremo é arte e catarse. E, para mim, é a porta que leva a atingir outras percepções. Aquele que acredita que a maior beleza está apenas no mais evidente é um grande tolo!
Nos últimos anos tenho me voltado para aquelas bandas que estiveram nos bastidores da minha adolescência e juventude, mas que eu coloquei de lado, como tinha colocado o COB. Eu os percebo de outra forma agora, e percebendo-os entendo melhor a minha vida, eu mesma e a extensão universal na qual estou inserida... Devo isso ao Alexi Laiho, cuja carreira eu pretendia seguir por muitos anos.
Infelizmente, a vida dele não foi tão longa... Há alguns anos era evidente que havia algo muito errado, mas ninguém tocava no assunto, como se houvesse um pacto de silêncio... A magreza nada saudável, a palidez, a aparência de quem tinha 20 anos a mais do que realmente tinha... E 2021 começou muito mal, com a divulgação de seu súbito falecimento em dezembro de 2020... Ninguém explica exatamente o como isso veio a acontecer nem o motivo... Mas, ele se foi... E como sempre acontece com o desaparecimento de um músico que eu não conheço pessoalmente, mas apenas por seu trabalho, o sentimento que fica é o de perda de um amigo querido e muito especial, o choque e a mais completa impotência diante do fato...