Como diriam os fofoqueiros de plantão, "que babado, heim"!
Um homem se casa. Alguns anos depois, ele entra com pedido de divórcio...
A lei vigente em seu país é bem simples. Desejando a separação, um dos cônjuges deve dar entrada no pedido de divórcio em um órgão distrital. Pedido protocolado, o casal tem seis meses para repensar seus conflitos e reconciliar-se, ou não. Após seis meses, o cônjuge que fez o pedido deve comunicar se mudou de ideia. Se ainda deseja divorciar-se, a separação será oficializada. Sem maiores complicações! A divisão de bens é feita em outra etapa.
Pois, bem… Aquele homem deu entrada no pedido de divórcio. Pouco tempo depois, ele mudou de ideia. Foi até o órgão distrital e retirou o pedido. O casal reconciliou-se. Final feliz, não? Bem… O casamento continuou e, espontaneamente, com o passar do tempo, os cônjuges passaram a viver em países diferentes, a eposa nos EUA e o marido na Finlândia. Porém, mantiveram uma relação de amizade, falavam-se com frequência e nunca houve novo pedido de divórcio de nenhuma das partes.
Aquele marido encontrou outras mulheres. Manteve um longo namoro com uma, depois firmou uma suposta “intenção de compromisso” (num evento que mais parecia uma festa à fantasia e que a "noiva" divulgou para o mundo como sendo um casamento oficial) com outra, de um terceiro país, a Austrália. Mas, nunca se divorciou e a esposa oficial tinha pleno conhecimento dos envolvimentos do marido. E veio a pandemia… A esposa isolada em um país, o marido e sua “intencionada” também isolados um do outro em países diferentes. Três continentes... E, diariamente, ao longo de seus 10 últimos meses de vida, o homem conversava com as duas mulheres via internet … Afinal, ele era efetivamente casado? Com qual mulher? Belo problema jurídico...
Essa história é verdadeira. É o assunto do momento nos círculos de heavy metal. É a história do Alexi Laiho e da Kimberly Goss (Sinergy) que, ao contrário do que se pensava até alguns dias, jamais se divorciaram... Alexi faleceu repentinamente acerca de um mês, tendo conversado com a esposa oficial, a Kim, no dia de seu falecimento... Obviamente é impossível saber o que se passava no coração dele quanto às duas mulheres da sua vida… Impossível saber com qual das duas ele teria retomado relações depois que a pandemia acabasse... Provavelmente tudo continuaria como estava, ou não... E, na verdade, isso não diz respeito a ninguém, além dos envolvidos. Mas, como se poderia prever, com o repentino falecimento dele, no momento as duas mulheres não estão em bons termos... Não é uma história com final feliz, enfim!
Por outro lado… Eu tive alguns amores ao longo da minha vida, como todo mundo... [claro que tenho que fazer analogia comigo mesma, afinal esse é meu blog pessoal]... Nunca vivi duas relações ao mesmo tempo – na verdade, eu não sou capaz de “administrar” muitos relacionamento ao mesmo tempo, sejam eles de que tipo for, e sinto que essa é uma limitação minha, que diz respeito a uma certa economia de energias internas, digamos assim. Vivi, sim, relações em que o outro mantinha ligação paralela, e eu sabia e não me importava. E, por consequência, de uma coisa eu tenho a certeza: não se gosta de uma pessoa exatamente pelo mesmo motivo pelo qual que se gosta de outra. O que quer dizer que é possível, sim, gostar de duas pessoas ao mesmo tempo.
Também é verdade que da última vez em que eu poderia ter vivido uma relação assim, eu declinei não sem muita dificuldade e sabendo que perdia a chance de viver a relação mais intensa que poderia ter vivido. E o fiz porque aquela intensidade não teria se adaptado ao segredo e nem à mediocridade hipócrita tão bem nutrida e mantida pela ordem social. Como eu era a parte em desvantagem, por força das circunstâncias, abri mão. E como não eram emoções que podia ser administradas naquele momento, rompi, cortei laços... Me arrependo? Não, pois não poderia ter sido de outra forma. Apenas lamento, pois gostaria que tudo tivesse sido diferente.
Mas, o que aprendi é que o que mais importa, hoje e sempre, é que cada ser humano é diferente, em suas minúcias, e traz consigo uma série de oportunidades de experiências, objetivas ou subjetivas, que são fontes de enriquecimento espiritual em potencial… E cada relacionamento é diferente do outro... A forma como, à primeira vista, se concebe uma relação entre homem e mulher (mulher e mulher ou homem e homem) é que, muitas vezes, é extremamente limitada, limitante e degradante de energias vitais.
Ninguém é simplesmente um objeto do qual apenas se pode extrair, para si, segundos de prazer físico. Ninguém é meramente um objeto do qual o outro deve se apossar e dirigir seus passos ao longo de toda a vida... Casamentos são tentativas de contar com redes de proteção! Resultado de buscas por garantia de segurança afetiva, de estabilidade, de lugar reservado no mundo, de aprovação social, de acumulação de bens materiais, de proteção na velhice.
Porém, cada ser humano é um universo em expansão! Ignorar isso é degradar e degradar-se. Conceder exclusividade é limitar-se, mesmo que por escolha própria. Embora a livre opção seja sempre válida, claro, é de se questionar se a escolha é mesmo "livre", e se é realmente uma "escolha"... Estas talvez sejam questões irrespondíveis, considerando a complexidade dos conceitos.
O que, creio eu, pode e deve ser melhor compreendido, em processos sinceros de reflexão, de si para si, é se o potencial das relações afetivas é plenamente vivido, se as relações afetivas ficam limitadas pelo imediatismo utilitário e pelas concessões feitas às regras da vida monogâmica, incutidas na mente de homens e mulheres como se fossem as únicas e certas para uma vida feliz, a receita segura do bolo, como se felicidade só pudesse ser conquistada de um modo único… Perde-se pouco, ou muito?
Alexi viveu o melhor que pôde e partiu muito cedo... Espero que sua esposa e sua namorada, que tinham conhecimento uma da outra embora não se conhecessem pessoalmente, sigam o exemplo que ele deu, reconciliem-se, vivam em paz e tirem de suas perdas o melhor para suas vidas, espiritualmente falando.
Imagem, fonte: https://casabovero.com.br/casamento-industrial-urbano-suas-varias-possibilidades/