(Resumo Publicado nos Anais do XVII Simpósio Multidisciplinar da Universidade São Judas Tadeu de 2011)
Alexandra Kolontai (1872 – 1953), militante comunista russa, e Ministra do Estado Soviético, no início do século XX, vivendo os primeiros anos da revolução de 1917, analisou a situação na mulher na sociedade de seu tempo e propôs novas formas de relação entre homens e mulheres. É objetivo deste trabalho analisar a crítica feita por Kolontai às relações afetivas, apresentada em sua obra A Nova Mulher e a Moral Sexual (1918). Partindo da análise do conceito de “mulher moderna”, Kolontai busca compreender o processo histórico que teria levado à sua concepção. Transcendendo o espaço geográfico russo, apresenta um panorama da sociedade patriarcal européia e das grandes transformações pelas quais passou a situação da mulher com o advento da industrialização. Lançada ao mercado de trabalho como único meio de prover as próprias necessidades, a mulher precisou superar sua própria fragilidade e adaptar-se às condições de competitividade por postos de trabalho. As características femininas, como passividade, submissão e doçura, precisaram ser substituídas por outras que lhes garantissem condições de sobrevivência em um mercado de trabalho no qual deveriam competir com os homens. Para Kolontai, tal situação provocou grande transformação dos traços psicológicos essenciais das mulheres. Suas estruturas interiores, colocadas em conflito por força do contexto social, passaram a sofrer impactos ainda maiores frente à dualidade de suas próprias emoções. Enquanto o confronto entre o antigo e o novo, no contexto das sociedades burguesas, colocava a mulher operária frente às exigências de uma moralidade rígida, na sociedade russa homens e mulheres, unidos pelo ideal revolucionários, buscavam construir uma nova sociedade, permeada por novas relações. Kolontai entende que os objetivos estabelecidos pela ideologia socialista, só poderiam ser atingidos pela cooperação estabelecida entre os sexos, inclusive e principalmente em questões afetivas. Assim, as formas de união conhecidas na sociedade burguesa – matrimônio legal, união livre e prostituição – deveriam ser substituídas pelo "amor-camaradagem". Este uniria os membros da sociedade por meio de laços sentimentais e psíquicos de simpatia, fazendo surgir novas formas de amar em superação ao egoísmo e à solidão típicos do ambiente capitalista. A crítica aos afetos, feita por Kolontai se constitui em potencial meio de análise e transformação das relações de gênero da atualidade.