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Maria Rita Kehl

O Jornal Brasil de Fato, período 22 a 28 de dezembro traz uma entrevista com a psicanalista Maria Rita Kehl. Ela nos conta suas impressões sobre o atual cenário da sociedade brasileira. 

Pessoalmente, gosto muito da postura do intelectual que toma a busca pela compreensão como seu vértice. O tipo de estudioso que não se posiciona como socialista ou liberal, como religioso ou ateu, mas privilegia a isenção das observações, a neutralidade, tanto quanto possível. O resultado de suas reflexões é sempre uma análise mais amplas dos fatos. Cito alguns trechos da entrevista: 

“(...) temos que ver que o individualismo tem suas vantagens (...) Por exemplo, o individualismo que tem a ver com liberalismo eu acho que traz ganhos mesmo na sociedade pós-capitalista (...) Nós, que somos mulheres, sabemos os ganhos que tivemos com o individualismo. Que cada um possa escolher seus destinos, que cada um possa fazer suas opções sexuais, decidir se vai formar família ou não, que se possa ser mãe solteira, ser mãe por inseminação artificial, não ser mãe... sem ser a escória da sociedade! Que gente rica possa escolher trabalhar com o MST ou ir para comunidades indígenas na Amazônia. A riqueza das diferenças individuais é um ganho no capitalismo liberal, que a gente chama de individualismo. Ao mesmo tempo, o individualismo é nefasto quando lança as pessoas em uma luta de todos contra todos.” 

“Uma coisa que talvez tenha sido um problema no governo Lula é que muita gente que se mobilizava até então se sentiu assim: ‘ah... conseguimos eleger o Lula e as coisas vão acontecer’. Houve uma desmobilização e o próprio estilo de governar do Lula contribuiu para isso. ‘Deixa que eu cuido... calma, gente, as coisas não podem ser tão rápidas...” Esse estilo de governar eu acho um problema, politicamente. Embora ele tenha sido um grande governante do ponto de vista administrativo. Mas, politicamente, ele se colocar como um ‘pai’ – aí vem aquela história... a gente não pode sempre dizer sim para os filhos. Enfim, ele ajudou muito a desmobilizar. Tudo bem, o papel dele não era mobilizar. Mas era acolher a mobilização.”