Nada é pior do que a dor das perdas irreversíveis e irreparáveis. Cada um tem seu jeito de conviver com a falta, com a saudade. O meu jeito sempre é me fechar em mim mesma enquanto sigo em recuperação lenta.
Quando a Tekinha se foi não posso dizer que eu tenha ficado surpresa. Na verdade, em seus últimos dias eu dizia pra mim mesma que devia me preparar para mais este impacto. No fim, não houve revolta, apenas a aceitação diante do que não podia ser diferente, e a paz por saber que dei a ela tudo o que estava a meu alcance e que ela sabia. Mas me fechei em mim e voltei a estar em companhia da pressão alta, das crises de enxaqueca, da depressão.
E não era minha intenção ter outro bichinho em casa tão cedo. Mas, há menos de um mês, num sábado de manhã, eu cruzava meu bairro com um serzinho de olhos meigos pousado nos meus braços. Foi ideia da minha mãe, que na noite anterior chegou em casa encantada com a filhotinha de pinscher vista num pet shop. E tanto a dona Maria insistiu em falar da bichinha que me convenceu a ir buscá-la.
A princípio, cedi em consideração à minha mãe que também passou pelo drama da perda da nossa companheira. Mas, só a princípio. Ao avistar a pequenina encolhida em uma gaiola de pássaros e seus olhinhos sonolentos, soube que ela nasceu pra mim. Tinha só cinquenta dias e já era uma sem teto no mundo. Juntamos nossas fragilidades. Desde que a Maya chegou, minha pressão alta e enxaqueca sumiram, a depressão também. A saudade da Teka não diminuiu, mas se tornou mais tolerável; a companheira antiga não foi substituída pela nova, mas esta acrescentou novos sentidos aos dias. E juntas elas me deram uma nova percepção da vida.
Nas últimas vezes em que levei a Teka ao veterinário notei um pôster na parede da sala de espera com paralelos entre idade de cães e de humanos. Os dezoito anos da Teka equivaliam a oitenta e sete anos humanos... E que estranho isso! A gente pode conviver diariamente com um ser que tem uma percepção de tempo completamente diferente da nossa e demorar tanto pra se dar conta de que o tempo não é uno! Todos os dias eu observo a Maya e noto como ela está crescendo rápido... O tempo dela, como o da Teka, não corre como o meu. Eles apenas estão cruzados... E penso que a vida é um milagre a ser comemorado a cada instante. Cada momento é vivido e perdido ao mesmo tempo e tudo o que a gente pode fazer é viver da melhor maneira. Se não é possível evitar as perdas, que pelo menos quando elas surgirem que se saiba que cada momento foi vivido da melhor forma possível.
E sempre achei que pessoas carentes precisam de atenção. Não. Sou uma carente que precisa de quem precisa de mim. Preciso expressar carinho e cuidar de quem eu amo antes de qualquer outra coisa. É uma necessidade. E não há nada mais reconfortante no mundo do que o carinho aceito e simplesmente reconhecido... Como Schopenhauer, minhas pequenas me lembram que é necessário retirar o véu das ilusões para enxergar e viver o que realmente importa.