Pular para o conteúdo principal

Especismo









 A palavra "especismo" surgiu na minha vida em 2010. Naquele ano, estudando Ética, tomei contato com o pensamento de Peter Singer e Mary Midgley, filósofos que refletem sobre questões relacionadas aos direitos dos animais. "Especismo" se refere à maneira preconceituosa como os humanos se comportam diante de outras espécies. O fundamento principal dessa linha de pensamento é relativamente simples: ao longo da história da humanidade os animais foram entendidos como inferiores aos humanos e sujeitos às suas necessidades e caprichos, tendência esta que foi acentuada pelas religiões. A bíblia católica, por exemplo, fala da criação de um paraíso onde todas as coisas estariam à disposição dos humanos, inclusive os animais, seus companheiros e "enfeites" do ambiente.



O resultado disso é que, de modo geral,  os humanos ainda tomam os animais, os diferentes, como inferiores, cuja dor e sofrimento não são tão importantes como a sentida pelos humanos. Daí que ninguém ousa falar em seres "humanos genéricos" (ainda). Mas, a ciência produz "vacas genéricas" sem que tal produção antes tenha passado por um debate público, afinal, se está tratando de seres inferiores, então pra que debate?



Se compreender a origem e evolução de tal preconceito na sociedade não é tão difícil, o mesmo talvez não se possa dizer das motivações e estruturas que o mantém. Não que seja difícil compreender razões industriais e mercadológicas, mas é difícil aceitar que os seres humanos não consigam se livrar das amarras que os prendem a concepções preconceituosas contra a vida. Um exemplo: no início deste ano comentei que eu não tinha certeza se poderia aceitar uma determinada data de reunião, pois a minha pinscher, que então há quase vinte anos acompanhava a minha família, estava muito, muito doente. Em resposta fui criticada por que "você falou do seu cachorro como se fosse uma pessoa"!



Para mim, que quando criança caminhava pelas ruas do meu bairro levando os animais para casa e deixando minha mãe maluca (não, não foi preciso estudar Ética para isso), é difícil compreender porque pessoas que estão, teoricamente, envolvidas com lutas sociais e ambientais, não conseguem transcender os limites do preconceito... A sustentabilidade não envolve amor à natureza, portanto também aos animais? Impossível entender porque um animal que sente dor não possa ser tratado por mim "como uma pessoa", especialmente se ele está sob a minha responsabilidade há quase duas décadas. Compreender isso seria entender a incapacidade de amar, pois é disso que se trata. Incapacidade de amar!



Eu sempre tive animais em casa em qualquer época da minha vida. E muitas vezes penso se não aprendi mais coisas positivas com eles do que com certas pessoas pra quais, por algum período, eu dei tanta importância. Os animais me falam de amor incondicional, de dedicação incondicional, de carinho, de uma amorosidade que cada vez mais falta entre seres humanos... Talvez se a humanidade se orientasse pelo princípio de amorosidade de que os animais são capazes tão espontaneamente, não se veria tantas barbaridades acontecendo no dia a dia. O ser humano precisa aprender a amar o diferente para tornar-se digno dos animais.








.