Enquanto os livros são minha porta de saída de mundos desinteressantes para universos surpreendentes, a música sempre foi e sempre será minha fonte de força e equilíbrio. Eu transito entre livros e música, desde sempre.
Desde que foi anunciado o falecimento de Alexi Laiho, no início de janeiro, o universo do heavy metal assiste a uma briga mesquinha e vergonhosa entre suas duas esposas. Enquanto a primeira e oficial compartilhava suas fotos e memória, a última companheira passou a hostilizá-la e difamá-la nas redes sociais e nos canais de mídia. Como se não bastasse, até o funeral se tornou motivo de disputa e agora estão brigando para decidir quem vai enterrar as cinzas. Enquanto isso, os fãs de heavy metal, que são muito apegados a seus "heróis", assistem a essa disputa insana.
Depois das acusações feitas no Ilta-Sanomat, que a família quer exibir como se fosse um troféu (embora a questão não se resuma a isso), perdi a paciência e me vi lembrado as senhoras envolvidas na briga que difamação é crime e que é passível de indenização por danos morais; que aquela primeira esposa tem direitos legais a serem respeitados, sim, e que deve lutar por eles na Justiça. Em resposta, a irmã do falecido me respondeu que "não tem respeito por mim"... Heim? Ah, então tá, né!
E quem diria que a irmã do Alexi me responderia da Finlândia, de bate-pronto?! O finlandês me parece uma língua alienígena e aquele país parece estar em um universo paralelo de tão diferente que é da realidade brasileira, mas estes são dias de redes sociais e Google Tradutor... E eu devo ser boa de argumentos (pelo menos do tipo que se distingue e incomoda), pois mais de uma vez me vi destacada por pessoas ditas "importantes" do cenário de heavy metal e acabei me envolvendo com algumas. Mas, enfim, no geral, os músicos são muito glamourizados, mimamos, paparicados, mas quando se chega perto deles, na intimidade do dia a dia, o que se vê são pessoas comuns, com as mesmas fragilidades e os mesmos problemas aos quais todos os seres humanos estão sujeitos. Então, não tenho fantasias com relação a músicos, muito menos com relação aos interesses que os envolve: marketing, negócios, bens, herança...
Mas, porque escrever sobre isso aqui? Porque o que mais me choca com relação a tudo isso (e me causou uma crise de enxaqueca que durou dias) é algo muito kantiano: o ser humano é limitado por seus sentidos, pelo tempo e pelo espaço, portanto nunca tem acesso à verdade completa, definitiva, absoluta. No entanto, frequentemente, ignora esse fato e age como se assim não fosse. Se comportando como o conhecedor da verdade única, julga, condena, sentencia!
Ora, os espaços para processos jurídicos não são as instâncias processuais e os fóruns de Direito, com base em legislações específicas? Em que momento foi que a Internet se tornou o espaço de julgamento de atos alheios, sem verificação de provas, sem profissionais capacitados, ignorando as leis? Hoje, a Internet, certamente, é o espaço da catarse e também da vingança... Se algo não agrada é na Internet que acontecem as reclamações e as execuções.
Resumo da ópera: hoje, mais do que nunca, é preciso lutar por direitos e colocar cada coisa no seu devido lugar. Omitir-se diante do erro é cooperar para estabelecer o errado no lugar do certo. Dona Anna Laiho "não tem respeito por mim", porque alguém precisou lembrá-la do óbvio e quem fez isso fui eu... Well, sorry, baby!
E sinto muito, também, pela dificuldade que se tem de entender e aceitar que amar uma pessoas não significa não amar outra. O egoísmo sempre transforma o amor em uma coisa feia.
Hoje se sabe que Alexi morreu em consequência dos danos causados ao seu fígado e pâncreas pelo consumo de álcool. A informação foi tornada pública pela primeira esposa, que procura alertar outros para os perigos desse vício. Contar a verdade sobre Alexi não o diminui, pelo contrário. Apesar da doença, ele deixou um legado musical respeitável e por isso será lembrado, reverenciado e amado pelas próximas gerações.
Foto, fonte: https://www.metalsucks.net/2012/07/06/alexi-laiho-is-like-seriously-ill-still-in-the-hospital/