E se for? Se for não há muito o que fazer. E eu me recuso a disputar lugar em hospital com gente que tem mais vontade de viver do que eu... Como assim, Helena, você não tem vontade de viver?! Na real... Eu já descartei todas as minha belas ilusões e não estou ligando muito, não... Acreditei que o amor supera tudo. E chegou o tempo de descobrir que é mentira... Acreditei que todos os problemas pudessem ser resolvíveis a partir de uma boa conversa sincera. E chegou o tempo de descobrir que é mentira... E descobri tantas mentiras... Tantas! E descobri complexidades aparentes que sempre convergem no mais simples: o despertar da vida e o calar da desagregação, que chamamos de morte. Todo o grande espetáculo que é o mundo e a existência convergem no despertar e no adormecer.
O parágrafo anterior rende um livro... Na verdade, renderia livros... E daí que se for covid, vou lamentar apenas duas coisas: os livros por mim não-lidos/não-escritos; e a incapacidade humana de chegar a acordos por aquilo que é mais essencial.
Que dias são esses... Quanto mais se discute coisas triviais, mais a humanidade demonstra que está desligada da memória dos nossos antepassados, dos ensinamentos que estão nos livros... Nada é novo sob a luz do Sol, muito menos o atual contexto político e a atual crise de saúde... Tempos diferentes, roupagens diferentes, mas disputas por poder e doenças transmissíveis são tão antigas quanto a própria humanidade... Mudaram os atores, o cenário, o tempo, mas a história ainda é a mesma, contada por um roteiro muito parecido...E o que faz com que não tenhamos as melhores respostas? Como é possível não termos aprendido nada com a História? É a mesma peça, com final semelhante: muitos já morreram e morrerão (talvez eu entre eles) e a humanidade seguirá cegamente na sua longa tragédia que se repete e se repete...
E tudo isso me dá uma sensação de impotência... Porque se eu pudesse acreditar que falar mudaria algo em curto prazo, valeria a pena gritar e tentar tirar o mundo dos velhos e gastos trilhos viciados... Mas, quem está ouvindo? Tantos gritando futilidades, poucos gritando o necessário e tão poucos ouvindo realmente... Serei eu mais uma nessa dinâmica de gritadores versus surdos?! Ah, não...
Tenho alimentado o sonho de viver de livros. Eu e eles, quietinhos... Se for possível apenas viver lendo, editando, escrevendo, imprimindo, encadernando, publicando da suave paz do meu lar para aqueles que importam (que são todos aqueles que se importam), ainda valerá a pena ficar mais um pouco por aqui ... Pesquisar, escrever, editar, encadernar são meus sonhos antigos. São meios de dizer para o mundo, de modo organizado e artístico, o que eu acredito que deve ser dito e, ao mesmo tempo, de tomar contato com o que outros acreditam que deve ser dito, de modo organizado e artístico. Sem gritarias, histerias e paranoias vãs, sem o caos que leva aos desastres de sempre...
Se não for covid, continuarei vivendo... de livros.