Nos últimos anos, as minhas crises vêm se tornando mais difusas, mais sorrateiras, mais intensas. Elas vão chegando aos pouco, camufladas, até se imporem. No auge, tudo o que me resta é buscar a escuridão de algum quarto silencioso. E não pode me faltar o estoque de dipirona sódica. Depois do auge, livrar-me da sensações de ter veneno correndo nas veias demora dias. É uma intoxicação seguida de uma purificação. Intoxicação de energias ruins... Melhor evitar. E ao longo da vida, aprendi muito sobre evitar. Aprendi que evitar também é me respeitar, cuidar de mim.
Daí que crises de enxaquecas me servem como parâmetro de medida do que eu posso suportar, ou não. Qualquer pessoa, ambiente ou rotina que me traga pressão além da conta, estresse além do suportável, tristezas e indignação que vão se acumulando, raiva ou sentimentos negativos em geral, fatalmente será convidado a se retirar da minha vida.... Ou eu vou me retirar, me distanciar, me colocar fora de alcance de tal pessoa, porque, sim, o corpo exige que a gente seja feliz, que esteja em paz... E o meu corpo é mais do que exigente, ele é categórico na sua mensagem: "Dona Helena, ou a senhora se ama e se cuida, ou vai ficar prostrada num quarto escuro com muita, muita dor".
Já houve tempo de eu lamentar não ser mais resistente. Não ser o tipo de pessoa que enfrenta o negativo, o torce e o subjuga. Queria ter transformado mais negações em afirmações. Houve tempo de me sentir culpada por me achar fraca e impotente... Mas, a dor é sempre um aviso de que algo não vai bem, de que é preciso mudar, mudar-se e a transformação é a essência do estar vivo... Hoje, quando olho para trás vejo que para cada "não" que a vida me disse eu encontrei os melhores substitutos, e eles me ajudaram a ser quem eu sou hoje, e eu gosto muito de mim.
Transformar fraquezas em força talvez seja o aprendizado mais importante da vida... E ser forte também é conhecer-se e desenvolver estratégias de bem-viver.