
O que faz com que alguém se apaixone romanticamente?
Esse é um tema com capacidade para atrair infinitas elucubrações filosóficas... Eu, porém, tenho explicações muito simples para as minhas próprias paixões. Explicações que não servem para todos, mas talvez contemplem uma parte dos seres humanos que buscam pela companhia dos sonhos.
Sempre me apaixonei por pessoas que pareciam refletir os meus ideais mais elevados.
A beleza física nunca foi importante e nem eu quis que a minha aparência física fosse o mais importante para alguém. Importante, para mim, sempre foi aquilo que eu estivesse “vendo”, ou percebendo, de mais elevado em alguém, e que fosse admirável... E o é, para mim, quando intimamente associado à ideia de uma alma evoluída que se orienta por altos princípios.
Embora eu não me considere uma moralista típica, meu ideal estético é ético. Expressão da minha vontade de tomar parte em um mundo organizado da melhor forma para todos, ou para o maior número possível de seres viventes. E, se assim desejo, não posso querer o que destoe. O que vai contra esse meu ideal não é algo que me soa como apaixonante. Simples assim! Daí que eu me desapaixono instantaneamente quando percebo estar vendo apenas o que desejo ver, e não o que corresponde à realidade.
Interessante que “alma evoluída” e elite típica geralmente sejam concepções contrárias... O normal tem sido que a elite típica, em algum momento, se distancie da ambição por alcançar entendimentos ampliados do real e a totalidade das possibilidades da razão, e abrace a ambição pela acumulação material, pelo sentido de importância e de poder que a matéria possa vir a proporcionar.
Elitistas, principalmente os chamados “novos ricos”, raramente deixam de mergulhar em deslumbramentos, futilidades e alienação mal disfarçados até para si. Embriagam-se de orgulho, autoengano e soberba enquanto se distanciam do mundo real com toda sua diversidade e complexidade. É quase que um “desvio natural” no qual imperceptivelmente se incorre ao caminhar por certos “espaços”. E há o "burguês com culpa", claro! Aquele que toa parte na estrutura do sistema de destruição, mas quer ter de si (e para os outros) a imagem mais bela. Cabam sendo os mais rasos e fúteis!
Me apaixonei, invariavelmente, por seres que, à primeira vista, não pareciam deslumbrados ou fúteis; e que pareciam ter atingido um grau mais elevado de maturidade, um tipo de desenvolvimento bem específico... Porém, primeiras impressões raramente se mantêm. Ou as pessoas mudam.
No fim das contas, é difícil encontrar o “par ideal”, a “alma gêmea”, e fazer com que uma paixão romântica se transforme em algo além de distanciamento ou insatisfatória união a médio e longo prazo. De qualquer forma, poucos têm a sorte de uma Rosa Luxemburgo que encontrou o seu Leo Jogiches (O Revolucionário!) de uma Iman que encontrou o seu David Bowie (O Criador), de uma Ann Druyan que encontrou o seu Carl Sagan (O Cientista e Divulgador da Ciência!), de uma Yoko Ono que encontrou o seu John Lennon (O Artista)… Eu gostaria de ter encontrado O Outsider. O mais próximo que consigo imagina é Nietzsche, que morreu em 1900. (rs)
Em minha defesa, contra acusações de narcismo, entendo que “espelhos” fortalecem em meio ao processo de ampliação evolutiva individual... E tendem a contribuir para que se retribua da mesma forma! Enquanto a sociedade exige que todos sejam similares, e eu muitas vezes quis ceder às exigência para encontrar paz, a verdade é que nunca me livrei da insatisfação com tudo que não se movimenta no sentido de tornar-se tão livre e elevado quanto possível.
E, a bem da verdade, na ordem nos engano, equívocos e das auto-ilusões, há outras explicações para minhas escolhas desastrosas. Mas, isso já é outro assunto...
[ Este texto também estava entre os meus rascunhos antigos. Só agora, fazendo a revisão deste blog eu o coloquei no visível. Acrescentei apenas o último parágrafo... Não faço ideia de quando escrevi isso... Teria que fazer uma expedição arqueológica em meio aos arquivos para descobrir. Talvez algum dia eu o faça, ou não... ]