Os homens se interessam por mulheres que parecem não precisar deles, pois assim eles se sentem livres... Em menos de dois dias li isso em um livro (Comer, Rezar, Amar) e ouvi em uma peça de teatro...
A peça – escrita e dirigida por Roberto Alvim, com Caco Cicler, Juliana Galdino e Bruno Ribeiro – está em temporada no Centro Cultural Banco do Brasil (SP) até primeiro de julho. Trata-se de uma adaptação do livro A Amante Inglesa de Marguerite Duras. Após vinte e dois anos de casamento, o marido reclama de solidão e da indiferença da esposa. Ela mata a criada negra, surda e muda, que o marido tomara como amante, e envia partes do corpo, por trem, para diferentes lugares... Mas a solidão da esposa é que acabou por fazer doer o meu coração... Está na linha daquelas histórias em que as pessoas se distanciam e se perdem por não saberem lidar com o que sentem...
Há vários bons motivos para assistir à essa peça. Os monólogos, carregados de motivações humanas profundas e obscuras, são excelentes; a montagem é impactante pela simplicidade e densidade (o menos que é mais); os atores estão maravilhosos... Eu adoro o trabalho do Caco Ciocler, mas a Juliana Galdino me ganhou totalmente.
E interessante ficar no meio do público após a apresentação e prestar atenção aos comentários. O pasmo é geral e se ouve aqui e ali “mas é só isso?”... Nossa! Quanta coisa há nesse “só isso”! E no fundo, todo mundo sente... É que a razão demora um pouco a se sobrepor ao impacto.
Depois da peça vale uma esticada no Girondino, o café do Largo São Bento, diante da Igreja. Lugar tranquilo para refletir e pensar nas armadilhas da vida... Por pouco não atravessei a madrugada perambulando pela cidade, um dos meus "esportes" preferidos, perambular... Vou tratar de comprar uma capa de chuva com capuz e botas plásticas...
Quanto aos homens que se interessam por mulheres que não precisam deles... Bem, a gente aprende a não precisar, até por falta de opção.
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