Na semana passada, voltei a frequentar as salas de aula. Agora não mais apenas como professora, pois me decidi a fazer um curso no Museus da Imagem e do Som, o MIS, sobre Filosofia e Cinema. Para minha surpresa, sou a única com alguma formação em Filosofia num grupo de quarenta pessoas. Mais interessante do que as aulas (não que as aulas não sejam interessantes) é observar a reação das pessoas às exposições do professor. Parece que todos procuram na Filosofia uma compreensão maior para algo (como se ela fosse um caminho para o absoluto), e se percebem atolados num mar de complexidades inexplicáveis.
Eu, pelo meu lado, na aula me dei conta de que sou mais kantiana do que gosto de admitir. Há tempos comecei a me pegar com uma certa indisposição por Kant. Tive um orientador que era/é anti-kantiano declarado e por mais que eu não o leve muito a sério, no que se refere a teorias do conhecimento (ele é da Política e não da Epistemologia), em algum nível fui influenciada por sua antipatia pelo filósofo. Porém, Kant me ajuda a ter um vislumbre dos contornos do que estou considerando como uma totalidade filosófica.
É uma ambição minha, olhar a Filosofia de fora, à distância, ter dela uma visão de totalidade, conseguir identificar suas partes e selecionar as partes que me pareçam mais adequadas ao tratamento de problemas específicos. É só o que pode colocar ordem na confusão que foi minha formação universitária. Daí, que Kant tendo chegado aos limites da razão, me faz desistir de acreditar que na minha condição humana posso encontrar respostas para todas as coisas. Isso é uma benção! Ok, me rendo ao não explicável, e sem culpa, pelo menos enquanto não tiver outra alternativa senão acreditar em Kant. Ele se ergue como quem estabelece fronteiras entre razão, subjetividade, imaginação.
Em cinema, Kant entra com sua teoria das representações, claro. Segundo ele, não é possível conhecer a coisa em si, apenas podemos ter dela uma representação. Porém, estabelecendo-se paralelos entre passagens de um filme específico com as categorias kantianas, a lógica transcendental e os erros estruturais, apenas para citar alguns pontos possíveis de análise, se tem um universo infindável de considerações.
Na verdade, minha adesão a esse novo curso foi mais pessoal do que profissional ou intelectual. Nos últimos dias ando às voltas com pedreiros, pintores, tintas e cores. Resolvi fazer uma reforma geral na minha vida a começar por encher a minha casa de luzes e cores. Um curso novo faz parte da minha reforma interior, implica conhecer outras pessoas, frequentar outros ambientes, ter novas perspectivas de vida. Quando chegar 2013 quero dizer "sou outra", de fato. E olhe que ele já está ali na esquina.
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