Michael Ende é o escritor alemão que, entre outros textos, escreveu História Sem Fim, filmado em 1984. Filho de um pintor surrealista (Edgar Ende), também ele trilhou os caminhos desta vertente artística. Seu livro Der Spiegel im Spiegel: ein Labyrinth, ou O Espelho no Espelho: um Labirinto, também de 1984, há décadas é um dos meus preferidos. É um livro com trinta contos, cada um descrevendo uma situação diferente, com personagens diferentes, embrenhados em universos aparentemente sem sentido. E daí a minha fascinação por ele: o non sense me instiga.
Neste livro há uma passagem sobre um estudante que se vê forçado a colocar de lado a Teoria da Relatividade para dar atenção às necessidades da vida prática, como renovar o aluguel do imóvel onde mora. Ende descreve as teias de aranha e a espessura da poeira que o cerca quando ele "desperta". Enquanto ele estudava o tempo-espaço, o tempo passou, o espaço e as coisas se transformaram. É o que acontece quando a gente se desliga do mundo para viver dentro de si mesmo. E foi o que aconteceu comigo por quase cinco longos anos.
No meu caso, o sair do mundo para estudar foi mais ou menos planejado, embora nem tudo ou quase nada tenha saído conforme o planejado. Nos últimos anos eu acreditava que ao final desse período haveria tempo para todas as coisas. A vida profissional e material estavam em compasso de espera. Só mesmo o necessário e indispensável para ganhar o "pão nosso de cada dia" tinha minha atenção. Com a vida afetiva não foi muito diferente. Embora eu tentasse fazer diferente, acreditava que ao final do período programado colocaria em ordem o que estava em desordem e ficaria tudo bem. Mas, não foi assim. Fui literalmente atropelada e acabei demorando bem mais do que o previsto para voltar a colocar os pés na terra e "despertar" para o mundo das necessidades da vida prática. E, claro, me deparei com teias de aranha e poeira espessa.
Eu poderia escrever longamente sobre os sinais e sentidos que surgiram no meu caminho de volta nas últimas semanas... Mas, em síntese, primeiro foi o improvável. Segundo foi a confirmação do já pressentido, do sabido e aguardado... Para concluir, aconteceram retornos significativos... O que estava distante ressurgiu.
Há um certo "anjo" que mais uma vez surge na minha vida num momento de renascimento. Falar sobre ele seria falar sobre minhas contradições... Muita ironia para explicar com palavras escritas num blog! Mas novamente ele me trás inspiração e encanta com seu sorriso de homem resolvido, com seu jeito eficiente, com sua sofisticação e bom gosto, com sua ousadia displicente... E me faz pensar "quando eu crescer, quero ser como ele"... (Rs) E com ele, lá vem novamente a tecnologia, o mundo prático de mãos dadas com o funcional e o futuro que acena... A informática, o eletrônico... E o Depeche Mode, sua banda preferida... Mas, desta vez, com força ainda maior.
Por diversas vezes eu tentei escrever sobre a importância que a música tem na minha vida, como ela me revitaliza, me sustenta, me ampara quando o chão me falta... Nunca consegui escrever nada que expressasse minimamente o que a música, em todas as suas modalidade, significa para mim... E não será dessa vez... Mas, esse certo "anjo" contribuiu para trazer de volta aos meus dias o Depeche Mode. E Dave Gahan se impôs inesperadamente. E eu, que não sabia nada sobre ele, agora procurei saber e me identifiquei com sua história, com seus tropeços e com sua volta por cima... Eu não sabia, mas Gahan é "um em um milhão" e me faz pensar em quantas vezes a gente perde a fé e a esperança por bem menos do que ele enfrentou no seu fundo de poço.
A cada dia se renova minha crença de que há uma certa sabedoria no andar dos dias. Sim, "há mais mistérios entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia". Porém, sempre há esperanças enquanto há vida... Quebrar todos os ossos do corpo num atropelamento súbito pode ser melhor do que anular e ser anulada lentamente, dia após dia, por um som que emana incessantemente de um vinil riscado... Há de merecermos muito mais do que isso! É preciso evoluir, sair do atoleiro, superar a passos largos... E é tão estranho perceber que isso me é dito pelos meios mais improváveis, mas sem chance de não ser compreendido! Estranho, mas reconfortante... E novamente o sem sentido faz todo sentido. Tempo... Que o tempo flua, que transforme e que nos leve para onde devemos estar a cada momento dessa história sem fim.