Hoje foi dia de faxina virtual. Atualizei blogs, enviei algumas dezenas de e-mail, relatórios, pareceres e, para finalizar, me coloquei a fazer uma limpeza nas minhas caixas postais de e-mails. Deletei centenas, talvez milhares. Tenho o hábito de não deletar e-mails e eles vão se acumulando e acumulando... Daí, hoje dei de cara com mensagens recebidas e ou enviadas há três, quatro anos ou sei lá há quanto tempo... E alguns sobreviveram à faxina... Na verdade, muitos. Entre eles, alguns que não tenho nem coragem de reabrir, outros que leio vez ou outra para ter a certeza de que não sou louca, de que não inventei dramas que nunca existiram. Algumas coisas são muito objetivas... Ou não? E não me desfiz deles, pois permanecem grudados em mim, mesmo quando me esqueço... Na verdade, não esqueço nem por um segundo, embora conscientemente venho me lembrado menos, bem menos.
Disse a minha psicóloga que não devo me preocupar, pois os loucos nunca colocam em dúvida a própria sanidade. Será simples assim? Não sei. O fato é que há muito meus conceitos de sanidade e insanidade distanciaram-se do senso comum. E em meio à dilatação dos conceitos, desisti de mergulhar em palavras. Pelo menos não o faço mais com a mesma frequência de há um ou dois anos. É que deixei de acreditar nelas... Não há explicações no fundo das palavras. Não há conforto que dure mais do que poucos minutos. Às vezes penso em escrever e sinto a impotência do ato de escrever.
Certa vez me coloquei a ler textos antigos de meus blogs e me dei conta do quanto aqueles textos, quando lidos por outras pessoas, estariam distantes do que me teria impulsionado a escrevê-los. Em cada frase há uma motivação camuflada que só eu poderia decifrar. E ainda bem que é assim! A alma a gente nunca expõe completamente. É perigoso demais estar nu diante de outros. Me escondo, mesmo!
E dias atrás, fui criticada por companheiros por me "fechar". E me fecho, mesmo. Nunca contei pra eles o quanto me ajudaram no período mais negro da minha vida. Chamaram à Terra minha mente entorpecida e ao me enviarem a lugares distantes me lembraram de que as possibilidades são mais vastas do que supõe minha vã filosofia. Percebi a vastidão... E o meu vazio particular. Nunca tentarei contar a eles, pois as palavras são incompetentes para expressar estados de alma. E eles perceberão que há um território em mim que ninguém mais verá. O meu "lado escuro da Lua", escurecido. Ou me aceitarão assim mesmo, ou não, pois nunca voltarei a confiar esse território a alguém.
Mas a vida malandra continua me lançando o que não quero ver. Há alguém na minha vida hoje que é um retrato do que eu poderia ter provocado na vida de alguém. Seus nervos exaltados, sua incapacidade emocional de dar conta da vida e do relacionamento com as pessoas, sua negatividade e desconfiança, sua alma envenenada por um veneno que lhe foi imposto pelos ocultamentos, mentiras e traições irresponsáveis de outro e que eu escapei de impor a alguém. Está se destruindo há anos, pois seus sonhos foram destruídos... Há pessoas que conseguem superar os reveses da vida, outras não. Eu estou entre os que conseguem, apesar... Mas o peso de ter destruído a vida de alguém não é algo que eu gostaria de carregar nas costas, nem o peso que eu gostaria que alguém carregasse, embora tenha havido momentos, confesso, em que não me importei.
A vida malandra é cheia de manhas... Me olha nos olhos, me desafia a encontrar o fim da charada que é só minha e que talvez não tenha fim. Também há tempos eu sei que não há o que me livre do que é só meu. Luta de vida ou morte... E fantasmas criaram vida em mim, se levantam em sonhos noturnos quando ouso afastá-los da consciência. Que ao menos hoje à noite eles silenciem. Depois de um dia abrasador, chove em São Paulo... Uma chuvinha calma, boa para embalar o sono.