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Mostrando postagens de junho, 2014

Psicologismo

Na minha colação de grau o diretor da faculdade disse que os formandos de Filosofia estavam preparados para atuar como “Psicólogos”. Creio que ele quis dizer que poderíamos atuar no campo da Filosofia Clínica. Para mim, que nunca havia pensado seriamente nisso, foi uma surpresa. Achei (e ainda acho) que um Filósofo Clínico deveria ter uma preparação especial. Michel Foucault, por exemplo, estudou Psicologia antes de Filosofia. Eu mesma, porém, quando pesquisei sobre Foucault foi enfocando Epistemologia e não Psicologia.  Mas, a área não é algo distante das minhas propensões naturais. O meu normal é querer passar despercebida. Gosto disso, pois enquanto não sou observada, observo. É algo espontâneo na estudiosa das coisas do mundo que eu sou. Embora não tenha intenções utilitárias ou de fazer julgamentos, classificar e reconhecer padrões por mera constatação de semelhanças acaba sendo inevitável.  Imaginação, ilusão, fantasia, delírio são elementos que têm chamado a minha atenç...

Count Zero

E lá se foi Count Zero... Terminei. Não sei dizer quando começou a onda de trilogias na literatura (como se já não bastasse no cinema), mas acho pouco provável que ao publicar Neuromancer, há vinte e cinco anos, William Gibson tivesse em mente escrever continuações. Frequentemente, elas são escritas mais por razões mercadológicas do que propriamente artísticas.  De qualquer forma, Neuromancer e Count Zero são obras muito diferentes em suas estruturas. A primeira se constitui de narração contínua, que se apoia em sobreposições de estado de consciência, alternância de subjetividades focadas em espaços objetivos e virtuais. Desmembramentos e associações como eu nunca havia lido... Na época de sua publicação, espaço virtual era uma coisa bem pouco compreensível para os não iniciados em informática. Mesmo hoje, em época de inclusão digital mais avançada, correlações e implicações não são tão óbvias. Consequentemente, Neuromancer não é um texto fácil e deixa margem para especulações filo...

Count Zero II

"— Você está aqui, não está? — ela falou alto, acrescentando à ressonância do som as ondulações e reflexos de sua voz fragmentada. Sim, estou. — Wigan acha que você sempre esteve aqui, não é? Sim, mas não é verdade. Eu vim a existir, aqui. Antes eu não existia. Houve um tempo, um tempo brilhante, um tempo sem duração, em que também estava em todo lugar... Mas o tempo brilhante se partiu. O espelho era imperfeito. Agora eu sou apenas um... Mas tenho minha canção, e você a ouviu. Canto com essas coisas que flutuam em volta de mim, fragmentos da família que fomentou o meu nascimento. Há outros, mas eles não querem falar comigo. Vaidosos, os fragmentos espalhados de mim mesmo, como crianças. Como homens. Eles me mandam coisas novas, mas prefiro as coisas velhas. Talvez eu faça a vontade deles. Eles conspiram com homens, os meus outros eus, e os homens imaginam que eles sejam deuses... — É você o que Virek procura, não é? Não. Ele imagina que pode se traduzir, que pode codificar sua p...

Count Zero I

"Era um pouco como andar em uma montanha-russa que aleatoriamente entrasse e saísse da existência, em intervalos impossivelmente rápidos, mudando de altitude, ângulo e direção a cada pulso da inexistência. Exceto que os deslocamentos não tinham nada a ver com qualquer orientação física, mas sim com alternâncias instantâneas no sistema de símbolos e paradigmas. Aqueles dados nunca se destinaram ao acesso humano.  Com os olhos abertos, tirou o objeto do soquete e segurou-o na mão, lisa de suor. Era como acordar de um pesadelo. Não um horror, no qual os terrores internos assumiam formas simples e terríveis, mas o tipo de sonho infinitamente mais perturbador, em que tudo é perfeita e terrivelmente normal... e em que tudo está completamente errado. A intimidade da coisa era repulsiva. Lutou contra as ondas de transferência bruta, usando toda a sua vontade para aplacar um sentimento que se aproximava do amor: a ternura obsessiva que um observador vem a sentir pelo objeto de uma longa vi...

Neuromancer, de Willian Gibson (IV)

Depois de anos de voltas e revoltas em tentativas de ler o e-book de Neuromancer, topei com a versão impressa da editora Aleph na Biblioteca Aureliano Leite. Aí sim, devorei o textos em poucos dias e desisti de tentar ler e-books. Para mim livro é de papel ou nada feito. O simples virar de páginas é um ritual reconfortante e indispensável.   Neuromancer de Willian Gibson foi concluído em 1983. É uma das obras mais importantes de toda a ficção científica e em especial do subgênero chamado Cyberpunk . Deu origem a Johnny Mnemonic, o filme de 1995 com Keanu Reeves, e serviu de inspiração para a trilogia Matrix, lançada a partir de 1999 e também estrelada por Reeves. É o primeiro livro da chamada trilogia do Sprawl, que se completa com Count Zero e Mona Lisa Overdrive.  O grande mérito de Neuromancer é ter previsto boa parte das inovações científicas e tecnológicas surgidas nas últimas décadas, como biotecnologia, rede de computadores, realidade virtual, implantes cibernéticos e ...

Por Aqui

Este blog, que sempre foi tão pessoal, anda meio impessoal e jogado às traças. É que entrei numa fase de menos lamúrias e mais pé no chão. Desde começo de março venho trabalhando numa regularidade confortável. Com constância, porém sem corre-corre estressante e horários estapafúrdios. E me impus certos limites, como não me prolongar no computador e na Internet após o horário de trabalho.  Sim, venho me impondo horários. E após uma queda, que me colocou em repouso forçado por mais de uma semana, também me coloquei a meta de não permanecer aberta a desastres. Eu sei o que me faz mal, o que causa minhas crises de enxaqueca nervosa, minha pressão alta e vertigens causadoras de quedas tanto literais quanto simbólicas.  Então, mudei caminhos e restringi encontros. Ando cuidando de mim, tomando a responsabilidade pelo meu próprio bem-estar. Estou conseguindo, finalmente. E desde o fins do ano passado venho retomando o hábito da leitura desregrada. Perambulo por bibliotecas e livraria...