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Psicologismo






Na minha colação de grau o diretor da faculdade disse que os formandos de Filosofia estavam preparados para atuar como “Psicólogos”. Creio que ele quis dizer que poderíamos atuar no campo da Filosofia Clínica. Para mim, que nunca havia pensado seriamente nisso, foi uma surpresa. Achei (e ainda acho) que um Filósofo Clínico deveria ter uma preparação especial. Michel Foucault, por exemplo, estudou Psicologia antes de Filosofia. Eu mesma, porém, quando pesquisei sobre Foucault foi enfocando Epistemologia e não Psicologia. 





Mas, a área não é algo distante das minhas propensões naturais. O meu normal é querer passar despercebida. Gosto disso, pois enquanto não sou observada, observo. É algo espontâneo na estudiosa das coisas do mundo que eu sou. Embora não tenha intenções utilitárias ou de fazer julgamentos, classificar e reconhecer padrões por mera constatação de semelhanças acaba sendo inevitável. 





Imaginação, ilusão, fantasia, delírio são elementos que têm chamado a minha atenção. Pergunto-me em que ponto a razão se transforma em outra coisa e o que é esse véu que impede de perceber as fronteiras entre uma coisa e outra. 





No geral, as pessoas se iludem sobre si mesmas antes de iludir-se com outros. Conhecem-se muito pouco ou não se conhecem em absoluto. Não raro se ouve alguém dizendo “agora eu mudei, agora tudo será diferente”, apenas para em seguida recomeçar a repetir-se, de novo e mais uma vez. Comportamentos repetidos são causas repetidas de efeitos repetidos... Mudar é impossível quando não se percebe a repetição. Ela é “involuntária”, ela se infiltra sorrateiramente, e se disfarça muito bem!





Como esperar efeitos diferentes quando se continua a repetir os mesmo erros? Erro frequente é não se dar conta da importância que os próprios atos assumem no confronto com a sensibilidade de outros ou não se importar. Quem planta ventos, colhe tempestades! O normal é pensar “ok, estou me sentido bem, então meu mundo é maravilhoso” e esquecer o “será que não estou magoando alguém nesta minha suposta independência?”. E o que é essa “independência”? Liberdade conquistada ou fuga camuflada? Fuga de quem? De quê? Por quê? E não vale se fazer de vítima sem perceber que está vitimando outros, pois implica continuar vitimando e se fazendo de vítima. 





De qualquer forma, atuar em Filosofia Clínica não está no meu horizonte, embora tenha afinidades com a área. Para a clínica, os Psicólogos me parecem insubstituíveis e eu mesma não os dispenso.



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