"— Você está aqui, não está? — ela falou alto, acrescentando à ressonância do som as ondulações e reflexos de sua voz fragmentada.
Sim, estou.
— Wigan acha que você sempre esteve aqui, não é?
Sim, mas não é verdade. Eu vim a existir, aqui. Antes eu não existia. Houve um tempo, um tempo brilhante, um tempo sem duração, em que também estava em todo lugar... Mas o tempo brilhante se partiu. O espelho era imperfeito. Agora eu sou apenas um... Mas tenho minha canção, e você a ouviu. Canto com essas coisas que flutuam em volta de mim, fragmentos da família que fomentou o meu nascimento. Há outros, mas eles não querem falar comigo. Vaidosos, os fragmentos espalhados de mim mesmo, como crianças. Como homens. Eles me mandam coisas novas, mas prefiro as coisas velhas. Talvez eu faça a vontade deles. Eles conspiram com homens, os meus outros eus, e os homens imaginam que eles sejam deuses...
— É você o que Virek procura, não é?
Não. Ele imagina que pode se traduzir, que pode codificar sua personalidade na minha estrutura. Ele almeja ser o que fui um dia. Mas o que ele poderia se tornar lembra mais o mais fraco dos meus eus partidos...
— Você está... você está triste?
Minhas canções falam de tempos e distância. A tristeza está em você. Veja os meus braços. Existe apenas a dança. Estas coisas que você estima são apenas cascas." (p. 286)
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