Passando pelo Don´t Touch My Moleskine, li a Daniela Arrais dizendo que tem medo de não conseguir amar... Fiquei pensando nas muitas vezes em que eu disse que não queria voltar a me apaixonar...
As crises mais graves começam quando me perco de mim... A vida está boa, calma, tudo em ordem. Mas não basta... É característica do ser humano sempre querer mais e partir em busca. Mesmo quando tem tudo, acaba inventando algo que lhe falta. Ao procurar preencher essa lacuna, que se torna real, procura se unir a outro e acaba por alienar-se de si. Isso nunca dá certo... Acreditar que o outro é a solução para a nossa instabilidade e permitir que seu comportamento seja o determinante dos nossos próprios atos é o começo do fim.
Passamos por isso uma vez, quebramos a cara, aprendemos as lições e, em algum momento, por algum motivo (geralmente carência pura e simples, pois não nos bastamos) esquecemos as lições aprendidas e entramos novamente no ciclo que se repete e se repete... Isso vale para ligações afetivas de qualquer tipo.
E esse é um ciclo de muitos feridos. Machucamos o outro, machucamos a nós mesmos, machucamos terceiros em um raio de tempo e espaço imprevisível. Nossos atos acabam por atingir até desconhecidos. Projetamos sofrimentos que desafiam fronteiras e não há o que conserte almas esburacadas.
Tenho martelado na minha cabeça que não devo ser injusta ou leviana e culpar somente outros pelo que eu mesma inicio. Ninguém, no contexto de histórias que envolvem pelo menos dois vértices, erra sozinho. Há pelo menos duas perspectivas em cada situação e a habilidade para lidar com elas é o determinante.
Somos responsáveis pelo que cativamos. E o modo como lidamos com nossas responsabilidades, no interior de uma rede de acontecimentos e considerações, define não só a relação, mas a qualidade do nosso caráter e influi no caráter do outro.
Como ensina Espinosa, “a felicidade e a infelicidade dependem da qualidade do ser ao qual nos unimos por amor”.
Não quero, nunca mais, voltar a me apaixonar descuidadamente, por qualquer um, por uma aparência falsa... Não quero! Sempre me apaixono por uma aparência, que imagino corresponder ao meu ideal. Mas isso nem é exatamente o problema e sim me enganar com aqueles que se acomodam muito abaixo do que poderiam ser.
Hoje, quero inverter a ordem das coisas. Conhecer primeiro, tranquilamente, com calma. Se não puder ser assim, já aprendi que não vale à pena. Quero identificar os defeitos e como posso conviver com eles em posse perfeita da minha razão, sem a ilusão infantil de que tudo pode ser superado, de que dois seres podem se tornar um por serem iguais. Ninguém é igual a ninguém. As pessoas podem ser parecidas em temperamente, mas as histórias de vida nunca são iguais. Quero contribuir para a auto-superação do outro enquanto supero a mim mesma. Só então me permitir amar o ser em movimento. Só depois me soltar para viver uma paixão, isso por último e para sempre... Nada se sair achando que o outro é o que eu preciso que ele seja, pois ele PARECE ser... O que eu preciso ou vou construir, ou não vou encontrar em lugar algum.