Vez ou outra me lembro de um certo ex-namorado... Nos encontrávamos depois do trabalho. Sempre íamos a lanchonetes e restaurantes. Eu evitava vê-lo nos finais de semana. Sempre inventava uma desculpa. Questionada, me saí com um espontâneo "ah, mas eu preciso cuidar das minhas coisas; tirar a poeira dos meus livros". E ele: "então, tirar a poeira dos livros é mais importante do que estar comigo?". Bem... quando tive que escolher fiquei com a poeira dos livros... Não que ele fosse horrível, não... É que tenho uma tendência à introversão e ao isolamento que às vezes é necessário sacudir, mas não é de qualquer jeito que se consegue.
Ontem, por insistência de amigos, tive um dia maravilhoso! Despertei na avenida Paulista, ao emergir do túnel da Consolação para o sol; tomei o café da manhã na deliciosa Bella Paulista, em meio à longa e boa conversa; almocei no Athenas, circulei pelo Center Três e pelo Espaço Unibanco de Cinema; visitei sebos na Augusta; caminhei pela feira de antiguidades no vão livre do Masp e pelo Parque Trianon; tomei sorvete de morango no McDonald's; comprei livros e revistas. Tudo em meio a discussões filosóficas, fofoquinhas básicas, projetos de trabalho, planos para novos passeios. Risos, reflexões, papo sério, brincadeiras. Três filósofos e uma psicóloga perambulando pela cidade sem se preocupar com o tempo.
Gosto da minha própria companhia, de me isolar na minha casa, com meus livros e pensamentos. Mais do que um gosto é uma necessidade. Preciso me ouvir, estar em sintonia comigo mesma, compreendendo meus impulsos e razões. Minha morada é, em primeiro lugar, dentro de mim mesma, onde reencontro e fortaleço todos os meus alicerces para encarar o mundo. Ser meu amigo implica aceitar esse meu jeito de ser, que é causa de muitas ausências, e colaborar para o meu equilíbrio com um certo feeling, empatia para saber quando é hora de me arrastar para fora de mim, ou melhor, me cativar do jeito certo para que eu queira estar fora.
Tenho muita sorte, pois venho contando com ótimos amigos. O saldo do dia foi muito positivo! O primeiro ano do resto de nossas vidas vai muito bem! E neste instante volto a me lembrar de Saint-Exupéry... à certa altura falávamos da superficialidade das relações, sobre como as pessoas se tratam como objetos descartáveis... Disse eu que me espanto com isso, pois sou capaz de insistir muito, me sacrificar muito, para manter algo que para mim é essencial, não importando que se passem meses ou anos. Quando finalmente viro as costas e caminho em outra direção quero ir com a certeza de que tentei tudo o que estava ao meu alcance... Em resposta ouvi que sim, que a gente deve se esforçar ao máximo, diferenciando muito bem amor próprio de leviandades... Isso, mesmo quando outros não entendem, pois, mais importante, se a gente fez o certo e a relação não deu certo, sabemos que não foi por não termos nos esforçado e partimos em paz...
E me lembrando agora do autor de O Pequeno Príncipe, me ocorre: é o tempo que dedicados à nossa flor que faz com que ela se torne para nós única no mundo... O tempo, empregado com qualidade, é que possibilita o bem-querer, o surgimento e a manutenção do carinho, da compreensão, da harmonia, que torna possível a transformação conjunta, a construção conjunta... E me fica a sensação de que coisas boas estão prestes a acontecer...