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Empatia





"A pior forma de violência que se comete contra uma pessoa 

é aquela que lhe  atinge a alma."



Quando digo que estive fora do mundo em 2011 não exagero. Ando revirando revistas novas e antigas, numa tentativa de me atualizar urgentemente.





Na "Brasileiros" de agosto (n. 49) há um "Especial Homem" com vários artigos, entre eles um texto do João Paulo Cuenca, falando sobre os homens de hoje, e outro da Tati Bernardi, sobre as mulheres. Diz ela: "a única verdade é que somos confusas, malucas e contraditórias. Mas queremos o amor. Isso nós queremos mesmo, não é mentira. Algumas dão pra meia cidade atrás dele".





"Dar pra meia cidade" procurando não me parece a forma mais acertada de busca... Aposto que a decepção é mais amarga, muito mais! Sempre fui adepta do "acesso restrito a pessoas especiais". E o que é uma "pessoa especial"? Isso é fácil responder, embora não de encontrar. É aquele que meu corpo deseja e minha razão não recusa. E o que é preciso para que minha razão não recuse? Resposta também fácil. A pessoa especial, necessariamente, demonstra algo indispensável: empatia.





Oras, alguém que não reconhece a minha sensibilidade e não demonstra empatia em palavras, será que fará isso em gestos? Como vou entregar meu corpo a esse sujeito primitivo? E aí é uma questão de colocar a razão para zelar pelo corpo, o que acaba diminuindo a amargura nem se for um pouquinho... Se o "escolhido" pelo corpo faz o tipo "intelectual míope" que não diferencia uma mulher da uma folha de papel em branco ou se faz o gênero "grosseirão tosco" que sem nenhum verniz civilizatório deixa claro que quer mais é "sexo barato"... Bem o que se vai esperar já que empatia e delicadeza não há? Já se o tal consegue a proeza de combinar as duas coisas, corra... Socorro!





Melhor dizer "não" ao corpo caprichoso e enfrentar o inferno do desacordo entre corpo e razão do que perder o auto-respeito. Depois a gente entra em pane, grita, esbraveja, esperneia, se desespera e os incomodados que se mudem... Em casos extremos vira trauma e fica a ferida aberta para sempre, mas pelo menos a gente não abriu mão de si e uma hora recupera o rumo.





Não é fácil conciliar carência, angústia existencial, impulsos físicos e bloqueios racionais com o (baixo) nível empático alheio... Isso é assunto que não acaba mais, pois no fundo da alma feminina grita a mulher que precisa se realizar e a menininha que pede compreensão.





Por outro lado, os homens, passando a se sentir ameaçados no seu papel de macho, não sabem mais qual papel interpretar. E diz o Cuenca: "Por onde andará o novo Humphrey Bogart? O novo Jece Valadão? O novo Johnny Cash? O novo Pereio? O novo Sinatra? Não anda ou andará. Por que não há.  O macho-alfa do século XX sucumbiu sobre o próprio peso. Hoje é uma sombra purpurinada e vaidosa de si mesmo (...) Pois o masculino perdido está em mulheres fálicas, como Deise Tigrona, Angelina Jolie, Michelle Anne Sinclair, Megan Fox, Tati Quebra Barraco e na menina destemida que cruza com você no Baixo Meier e te oferece um baldinho de cerveja. Elas - só elas - são a esperança dos machos caídos".





Eles ainda tem esperanças. Mas cadê as esperanças das mulheres sensíveis? Minha impressão: as mulheres buscam se superar e os homens se perderam. Parece que eles ainda não entenderam que mulher raramente se contentam permanentemente com o que é menos do que ela. "Menos" nos mais variados sentidos. Mulher fálica usa purpurina ela mesma e procura por um Humphrey Bogart ou um Sinatra, machos que não confundem delicadeza com fragilidade, firmeza com grosseria. Dos toscos e dos frágeis as mulheres fálicas correm, porque não são tão fálicas quanto parecem... Nunca são. Como diz a Tati: "queremos que nos tratem de igual para igual, mas, principalmente, de homem para mulher". Bem, "de igual para igual" não elimina gentileza, cortesia. E "que não se assustem", completa ela, que aceitem nossas maluquices, confusões e contradições, pois elas não são mais do que o sinal do tamanho da nossa fragilidade e da ânsia das nossas buscas. 





Eu sei, é dose para super-homem... Ou seja, para machos em extinção. Mas buscas desesperadas tendem a só gerar mais desespero. No fim, enganos se multiplicam e insatisfações idem. O que talvez ajude é o velho "toda generalização é burra". Ninguém tem que se aliar ao rebanho das "mulheres fálicas" e dos "homens purpurina"... Prefiro os seres humanos empáticos.





Aliás, lindo texto da Tati! Choro só de lembrar.