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Mostrando postagens de 2013

HIM 2014

Tchau, 2013! Oi, 2014!

Não sei exatamente quando, nem onde, nem como um sentimento de inutilidade se sobrepôs... Inútil escrever! Palavras não mais davam conta de energias exauridas, de esperanças perdidas, de sonhos frustrados. Não podiam representar uma parcela mínima do desespero de todos os choques acumulados, da sólida descrença. Prenúncio foi quando me decidi a colorir paredes e adubar vasos e jardins em substituição ao cultivar letras. Isso foi já em 2012. Meu micro-universo concreto se levantava como antídoto contra a ânsia por conexões impossíveis entre real e ideal, entre o espontâneo e o construir para a elevação nesta sociedade de maluquices avançadas. Sempre espero muito da razão, assim como da sensibilidade e da vocação humana para o superar-se no sublime. Porém, cada vez mais me sinto como coisa fora do tempo e sem espaço. É, acho que sim... Escrever tinha alguma função vital inconsciente. Era uma espécie de aposta na esperança, confesso... Depois de todo um ano observando a desrazão que campe...

O Leitor

Sim, eu sei que O Leitor é um livro já meio antigo, que foi muito lido e até já foi filmado. Mas, eu ainda não havia lido nem assistido. E me surpreendi, pois é o melhor romance que já li em muito tempo... Frases curtas, parágrafos curtos, capítulos curtos que contam uma das histórias de amor mais delicadas e contundentes que li em qualquer época. São muitas as passagens belas que deverei reler tantas vezes quanto meu tempo de vida permitir. "O rosto não estava nem especialmente pacífico, nem especialmente agonizante. Parecia rígido e morto. Após olhá-lo por um bom tempo, o rosto vivo surgia no morto, o jovem no velho. É assim que deve acontecer em casais velhos, pensei; para ela, o homem jovem fica preservado no velho e, para ele, a beleza e o encanto da mulher jovem na velha. Por que eu não tinha visto aquela imagem na semana anterior?" SCHLINK, Bernhard. O Leitor. Rio de Janeiro: Record, 2009, p. 229. .

Feliz Por Nada

"É uma visão generosa da vida: imaginar que os não acontecimentos fizeram diferença, que você está onde está não só por causa das escolhas que fez, mas também por causa das especulações que nunca se confirmaram. Ao manter esse caráter desestressado, eliminamos a palavra derrota do nosso vocabulário e a alma fica mais aliviada, o que não é pouca coisa nesse mundo em que tanta gente parece pesar toneladas devido ao mau humor e ao pessimismo." MEDEIROS, Martha. Feliz Por Nada. Porto Alegre: L&PM, 2012, p. 83.

Até Que a Luz Nos Leve

O sonho de qualquer filósofo (que eu acho que se preza) é viver num Estado de esclarecimento. A figura da antiga Ágora grega, onde todos discutiam os destinos da cidade, é um modelo e uma utopia no horizonte. Mas, admito que não tenho notícias de que tais condições de livre busca pelo conhecimento tenham existido em outro lugar que não naquele espaço privilegiado, naquele momento privilegiado da história da humanidade. O normal é que haja uma elite que detenha o conhecimento e uma massa de ignorantes impressionáveis, influenciáveis, que se contenta com pão e circo. Neste contexto, nascer do povo e tornar-se parte de uma elite de intelectuais é exceção à regra. Entenda-se: "elite intelectual" não implica necessariamente ter diploma, mas fazer-se herdeiro da herança cultural dos nossos antepassados e, como certa vez ouvi de um professor, tornar-se um gigante por "subir nos ombros de gigantes" e com autenticidade. Cada vez mais acredito que a formação de homens diferen...

Curinga

"... o que você faz se, ao chamar o elevador de um prédio estranho, à noite, a porta se abrir e lá dentro estiver um sócia do Curinga, com uma cicatriz perturbadora na face e vestindo um sobretudo enorme que poderia muito bem esconder duas pistolas, três granadas e um rifle? Você certamente teria uma vontade súbita de descer pela escada e sumiria de vista. Pois eu entraria no elevador toda faceira, daria boa noite e faria comentários sobre o clima, pois deus que me livre de ele achar que sou preconceituosa e que sua aparência me fez pensar que ele pudesse ser um esquartejador de mulheres. Por que ele não pode ser um pai de família como qualquer outro?" Palavras da Martha Medeiros. "Sou eu" pensei, quando li... "Ela está falando de mim!" Me veio à mente as muitas vezes em que todos os meus instintos vibravam, alertando para a roubada em que eu estava me metendo, gritando que eu não deveria entrar no elevador... Sempre fui boa em ignorar meus instintos na es...

Esperança

Esquerda X Direita: o nobre e o ressentido

Por um bom tempo entre as mensagens e material visualizados por mim em facebook predominaram os compartilhados por simpatizantes de esquerda, conhecidos e amigos vinculados a movimentos sociais e vários educadores populares, seguidores dos ensinamentos do filósofo e pedagogo Paulo Freire. Provavelmente por conta dos desdobramentos dos movimentos de junho, este pessoal tornou-se mais silencioso. Creio que estejam por demais ocupados com as atividades práticas exigidas pela educação popular neste momento histórico tão importante. Ultimamente, a orientação se inverteu e os simpatizantes de direita têm se manifestado mais. Na verdade, eles parecem estar gritando bastante... E eu achei até interessante prestar atenção ao que eles dizem. Apesar de não ter nenhuma simpatia pela direita, entendo que meu papel como filósofa – que é o que eu tenho me esforçado para ser –, não é exatamente defender esta ou aquela tendência, mas antes tomar contato e compreender as várias perspectivas próprias ...

O Coração das Trevas - Joseph Conrad

"Um século transcorreu desde a primeira publicação em livro de O Coração das Trevas, um século de luzes ofuscantes e trevas infernais, de maravilhas da ciência e da técnica a serviço do homem e também da destruição de multidões, de prodígios nas artes, na política de povos e nações, na aventura humana, mas de espetáculos estarrecedores de loucura coletiva, de destruição em massa, de atrocidades extraordinárias. Na literatura, profundidades insondáveis da condição humana foram exploradas nos limites extremos do conhecimento e da imaginação por nomes glorificados de todos os continentes, cuja lista ficaria incompleta sem James Joyce, Thomas Mann, Bertold Brecht, Albert Camus, Machado de Assis, Guimarães Rosa, Jorge Luis Borges, para citar apenas alguns. Com tudo isso, nos últimos cem anos, poucas obras tiveram o glorioso destino de ser o apanágio de sua época e um repertório de premonições como ocorreu com O Coração das Trevas de Joseph Conrad." .

Metal Nacional: Crises do Heavy Metal Brasileiro, um esboço

Nos últimos dias ganharam relevo duas discussões: o mensalão do PT; a situação do Heavy Metal brasileiro. E é curioso observar como duas coisas, aparentemente tão distintas, em essência são iguais. O Heavy Metal brasileiro sofreu ao menos dois golpes fatais. O primeiro aconteceu em meados dos anos 80 quando, recém instalado no Brasil por efeito da Nova Onda de Heavy Metal Britânico, foi atropelado pela maior emissora de televisão do país. Por ocasião do primeiro Rock ‘n’ Rio, a Rede Globo se deparou com um fenômeno novo e, para seus jornalistas, incompreensível. Na urgência de fazer a cobertura do festival, passaram a transmitir imagens de adolescentes em bandos, gritando loucamente, não dizendo coisa com coisa, e logo os batizou como “metaleiros”. A imagem que ficou para a população foi esta mesma, de adolescentes loucos, descontrolados, cabeludos bêbados/drogados, alienados e irresponsáveis, que ouviam uma música barulhenta cujas letras não entendiam. Ocorre que as imagens eram de mo...

Para Além do Nada

Dias desses, passando por aqui, fui surpreendida pelos números. Os contadores me diziam que fecharia 2013 com algo próximo a vinte postagens a menos do que em 2012 e 2011. Embora tenha tido mais tempo vago, escrevi menos. E isso tem muitos motivos. Momentos de perigo sempre parecem associados a riscos e ou alta adrenalina, como nos filmes de ação. Mas, pode ser o oposto. O limiar é silencioso, estático e até tranquilo. É aquele momento em que não há nada a dizer  ou fazer e a esperança, que é sempre a última que morre, sopra um "espere, algo vai acontecer", em defesa da própria existência. O jeito é deixar o mundo girar, pois ele muda a situação de tudo e todos. Esse movimento acaba por impulsionar rumo a saídas para além do nada. Mas, é uma situação em que palavras perdem qualquer importância. Mais uma vez me deparei com a inutilidade das palavras e escrever não fazia nenhum sentido. A catarse se perdeu ao mesmo tempo em que o mundo girava e eu, novamente aos tateios, vivia ...

Evergrey - A Touch Of Blessing

Bem o drama de todo filósofo! Escalando paredes de um circulo infinito Andando por caminhos de que você nunca ouviu falar Lutando em uma batalha infinita Procurando por um propósito mais elevado Afogando-se num rio de traições O frio congelante fará você se arrepiar Junte-se ao mundo de um aprendizado maior Coroe-me rei e sejam meus servos Iludido pela beleza Uma que você encontra raramente Assim amorosa e amigável É apenas um de vários Seus braços abertos Dispostos a me levar sem dúvidas em escolher um mundo livre de pecado Todos os sonhos que eu tive Todos meus desejos do futuro Postos de lado para uma viagem maior Todas as coisas que eu planejei Deixei meus amigos tão friamente Postos de lado por um propósito maior Iludido pela beleza Uma que você encontra raramente Assim amorosa e amigável É apenas um de vários Um único exército Como unido em "um" Um toque de bênção Que não pode ser desfeita Afogado em um rio de traições O frio vai te fazer tremer Junte-se ao mundo do ens...

Bring On The Night

O ano era 1986. Não me lembro em que contexto aconteceu o convite para o giro pela cidade, para uma “atualização cultural”... Aceitei, até porque eu iria de qualquer forma. Bring On The Night, o álbum duplo ao vivo do Sting havia sido lançado há pouco e eu queria comprá-lo. Fomos direto para a Galeria do Rock num sábado à tarde. Caminhamos pelos corredores movimentados, entramos em várias lojas. Fiquei encantada com a vitrine da Dr. Caligari, dedicada à música gótica... E acabei comprando Bring On The Night no finado Mappin. Muitos dos meus vinis foram vendidos em sebos, mas este álbum ainda está comigo.  Naquela tarde, depois do Mappin fomos comer hamburguers no McDonald’s da Av. Ipiranga. Perambulamos pela cidade por horas e jantamos em uma cantina italiana na Rua Augusta. Voltamos para casa tarde, já quase no início da madrugada. E não era a primeira vez, nem foi a última. O tempo voava enquanto falávamos sobre tudo e sobre nada, desvendando o mundo. Essa foi uma relação que ...

Dissonância

  Aparelho antigo de televisão... O primeiro da minha vida consistia de uma caixa de madeira escura envernizada. Dela saía um fio que se ligava à tomada e outro que escalava a parede rumo à antena, na lage. Na tal caixa, do lado de fora se destacava uma tela de vidro cinzento e alguns botãozinhos. Com três, quatro anos de idade, eu acreditava que ali dentro havia um mundo mágico que magicamente se mostrava. Mais tarde a mística se desfez. Entendi que sinais eram captados pela antena e convertidos em imagens e sons pelos tubinhos luminosos que brilhavam dentro da caixa. Não há o que defina melhor como tenho me sentido, orbitando neste século XXI, do que a lembrança daquele primeiro aparelho de TV. Capto sinais que viajam pelo espaço e que são convertidos pelo meu corpo em sons e imagens mentais. Como o espectador que gira os botõeszinhos frontais da caixa mágica, combinando cor, contraste, brilho, eliminando distorções e chuviscos, empenho esforços diariamente para melhorar a clarez...

Diferentes

Pensando... Que sou grata por conhecer pessoas diferentes, de classes sociais diferentes, com histórias de vida diferentes, que vivem em lugares diferentes, de formas diferentes, com interesses e opiniões diferentes... Nesta Babel! Nelas, as perspectivas são distintas, as motivações também e nem sempre, ou raramente, de fácil compreensão... São universos únicos e componentes do cosmo, com passado, presente e futuro, com mistérios possíveis de decifrar, ou simplesmente indecifráveis... Corpos que abrigam corações e mentes, desviando-se, chocando-se, combinando-se das melhores formas ou das piores, nesta construção e reconstrução constantes de "bem" e "mal", "bom" e "ruim", partidas e chegadas, construções, destruições e recomeços. Necessário olhar pra toda essa diversidade humana e o contexto que a acolhe,  porque tempo, espaço, subjetivo e concreto, não são lugares em que deve caber apenas eu e quem pensa igual a mim, os meus iguais, mas todos os...

Antígona, novamente

Há exatamente dois anos, estudando Estética, o professor fazia com que minha turma lesse Antígona, a tragédia Grega. Uma leitura conjunta do tipo jogral. Mas, eu não precisava ler Antígona para saber que estava vivendo uma tragédia pessoal. Vivia o sentimento de que toda a minha vida estava fatidicamente destinada a precipitar-se num abismo, que então se abria à minha frente. Aprendi muito bem o que é uma tragédia e o que é cair em abismo. Justamente por ter vivenciado tão plenamente é que a situação acadêmica agora se repete. O mesmo professor renovou a sua proposta e, novamente, estou em situação de ler Antígona, a tragédia, com os colegas estudantes. Nesse meio tempo, o que eu ainda não aprendi é sobreviver a tragédias. Ou melhor, aprendi que a gente não sobrevive. A Helena que lia Antígona há dois anos morreu. Não é a mesma que lê Antígona hoje. E esse novo ser que surgiu, essa nova configuração que eu ainda não conheço, ainda não sabe bem como existir neste tempo confuso. Não sabe...