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A Verdade Que Não Liberta



[ Texto publicado originalmente em 11 de Agosto de 2016 ]

Viver em senso comum significa acrediar em falso e verdadeiro. Falso como aquilo que é mentira; verdadeiro como aquilo que é irrefutável, inegável, irrecusável, parâmetro absoluto para a justiça. Dói aceitar que a verdade, frequentemente, é inalcansável para muitos ou para todos. Não ser possível apoiar-se em qualquer verdade é aterrorizante, é estar a um passo do abismo.

E talvez porque ninguém gosta de sentir dor ou terror, pelo menos não os ditos "normais", se continue insistindo em verdades incontrariáveis que libertam. "Ela não pedalou"! Como é possível que tantos não aceitem que "ela não pedalou"?! Então se continua repetindo que ela não pedalou... Uma, duas, três vezes, um milhão de vezes... A verdade nem sempre liberta. Muitas vezes a verdade aprisiona.  

A verdade, nestes dias de século XXI, é sempre interpretação. Não é irrecusável, não pode ser irrefutável. Pelo uso das palavras é possível refutar todas as coisas, inclusive a verdade, que é apenas interpretação. E por ser interpretação também não chega a ser mentira, não chega a ser falsidade.

Interpretação cada um escolhe com qual quer ficar. Escolhas... Cada um escolhe de acordo com o que pode perceber, com sua disposição para investigar, com o que pode aceitar, com o que está convencido de ser o correto num dado momento. Escolhas andam de mãos dadas com a natureza das histórias individuais, é próprio da dinâmica das atribuições de valor.  Escolher livremente implica diversidade de momentos e modos de evolução intelectual. Diversidade... A tão defendida diversidade! Isso é uma defesa? Não. É apenas como as coisas são. Se pedalou, se não pedalou tornou-se insignificante diante das interpretações individualmente escolhidas e que precisam ser consideradas em conjunto em um regime político democrático, independentemente das motivações que as permeiam.

Como é próprio da liberdade escolher, possibilidade típica de sistemas democráticos, insisto, a política do século XXI precisa estar além de parâmetros de "verdade", porque a "verdade", hoje, está  bloqueando o curso da história. Dito de outra forma, pleno consenso não é possível, então, e agora, José? 

Eu acho, mesmo, que para além de escolhas interpretativas, a Presidenta Dilma está prestando um serviço incomensurável a essa nação. Jogar a corrupção no ventilador é coisa para herói, melhor heroína. E encontrar respostar para as questões que estão em aberto é um desafio à altura de homens e mulheres deste tempo.


(Na foto Vanessa Grazziotin, José Eduardo Cardozo, Gleisi Hoffmann)